UFF: 'Cotas não serão enfiadas goela abaixo'

Em quatro anos metade dos alunos entrarão pelo Enem em todas as federais | Foto: Alessandro Costa / Agência O Dia

Reitor afirma que lei precisa vir com recursos para assistência de estudantes de baixa renda. Escolas particulares do Rio se preparam para disputa mais acirrada por vagas.

POR  Angélica Fernandes
          Christina Nascimento

Rio -  O reitor da UFF, Roberto Salles, fez nesta quinta-feira críticas à nova Lei de Cotas, sancionada na véspera pela presidenta Dilma Rousseff, e disse que, para colocar em prática as novas regras, é preciso ter mais recursos.

“Isso não vai ser enfiado goela abaixo. É preciso triplicar a verba para a assistência estudantil”, disparou, explicando que os alunos de baixa renda precisam de auxílio para transporte, alimentação e livros.

Na UFF, hoje, 25% das vagas são destinadas a alunos oriundos de escolas públicas. A nova lei concederá, gradualmente num prazo de quatro anos, metade das vagas de universidades federais para quem vem da rede pública ou é negro, pardo e indígena. Nesta quinta, a UFRJ, a UFRRJ (Rural) e o IFRJ informaram que vão se adequar à legislação. Preocupadas com a nova norma, escolas privadas se preparam e planejam ensino mais rigoroso.O objetivo é tornar os alunos mais preparados e competitivos, já que aumentará a concorrência por vagas para as particulares.

Luciano planeja estudar mais | Foto: Paulo Araújo / Agência O Dia

“Desde a mudança do Enem para o Sisu, o sistema começou a dificultar para escolas e alunos. Isso faz com que o aluno se desdobre para entrar na universidade”, observa o coordenador do Ensino Médio do Colégio MOPI, André Chaves.

Na UFRJ, onde 30% das vagas já são para alunos de baixa renda ou vindos de colégio público, a nova forma de ingresso será discutida pelo Conselho Universitário. Uma das questões a ser definida é como a instituição vai aplicar a regra. Não se sabe ainda se será adotado todo o percentual de 50% na próxima seleção de alunos ou se a adaptação será gradual, como permite a lei. Já a UFF aplicará a lei de acordo com a realidade da instituição. “Os senadores estão fazendo cortesia com o chapéu dos outros. Por que, quando eram prefeitos e governadores, não tentaram melhorar o Ensino Básico? Estão escamoteando uma política capenga de Educação. A pressão fica em cima do reitor”, desabafou Salles.

Nas escolas públicas, festa. Nas privadas, apreensão
Alunos da rede pública comemoram a maior oportunidade garantida pela nova legislação. Já estudantes de escolas particulares se preocupam com a competição mais acirrada pela frente. Devido a políticas de acesso a estudantes da rede pública, em um ano, o perfil econômico dos alunos da Rural mudou. Até 2009, 26% tinham renda de até 3 salários mínimos. Em 2010, eram 50%. “Estamos remediando uma injustiça social de anos”, defendeu a pró-reitora de graduação, Nidia Majerowicz.

Com 40% de vagas para estudantes de escolas públicas, o IFRJ acredita que a lei vai a democratizar o ensino. “Não queremos elitizar nossas vagas”, afirmou a pró-reitora de graduação, Mônica Romitelli.

Entre alunos dos colégios particulares, crítica e apreensão: “O governo prefere colocar cotas para tentar melhorar as coisas e, assim, disfarçar o problema da Educação. A disputa vai ficar mais acirrada por vaga e nosso estudo vai precisar aumentar”, opina o estudante do GPI Luciano da Fonseca, 17 anos, que vai fazer vestibular para a UFRJ.

Aluna do colégio MOPI, Isabela Miguez, 18, vai tentar uma vaga no curso de Direito. Mesmo sendo a favor das cotas, ela se sente em desvantagem.

Os colegas João e Isabela acreditam que a redução das vagas para não-cotistas vai pesar na hora da prova | Foto: Paulo Araújo / Agência O Dia

“Na hora da prova, o maior desafio é o nervosismo e, com essa concorrência maior, vou ficar mais tensa”, admite. Seu colega João Gustavo Barbosa, 18, também acha que a redução do número de vagas para não cotistas vai pesar. “Vai ficar bem complicado agora”, prevê.

Cotas raciais vão variar por estado
A partir do ano que vem, pelo menos 12,5% das vagas serão para cotistas e em quatro anos, a cota chegará a 50%. Mas a lei ainda será homologada pelo Ministério da Educação em setembro. As cotas raciais serão definidas por estado de acordo com percentuais detectados no Censo. A Uerj, que adota o sistema racial desde 2001, fez estudo sobre cotistas no mercado de trabalho e concluiu que, de cada 10, nove estão empregados. Eles também tiveram desempenho acadêmico melhor do que os outros alunos.

Cinco semanas de reposição
Prevista para ter a greve encerrada hoje, a UFRJ já se prepara para o novo calendário acadêmico. A reposição de aulas vai durar cinco semanas. O recesso de fim de ano será de 22 de dezembro até 20 de janeiro. O segundo período de 2012 terá início imediatamente após o término da reposição. O novo calendário terá um período excepcional para trancamento de inscrição em disciplinas do primeiro semestre de 2012. As outras universidades em greve não divulgaram o cronograma que será adotado.

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