Principais reclamações são as poucas reuniões realizadas e a dificuldade em conversar com a presidente.
Guilherme Waltenberg, da Agência Estado
A iminência de os reflexos da crise econômica global, sobretudo a que
assola os países europeus, atingir o mercado de trabalho brasileiro já
está gerando tensão nas relações entre sindicatos de trabalhadores e o
governo da presidente Dilma Rousseff. Mesmo sendo considerada afilhada
política de um ex-presidente oriundo do meio sindical e ter herdado a
administração de Luiz Inácio Lula da Silva, dirigentes das principais
centrais sindicais do País reclamam que as relações entre os
representantes dos trabalhadores e o governo federal podem entrar em
colapso, em razão da falta de um canal eficiente de comunicação do
governo com os trabalhadores.
O reflexo desse descontentamento ficou evidente no cancelamento de
duas agendas oficiais nos últimos dias. Na sexta feira, 18, a presidente
cancelou sua presença na cerimônia de inauguração da unidade José
Alencar Gomes da Silva do Campus Diadema da Universidade Federal de São
Paulo (Unifesp) devido à presença de professores grevistas que
planejavam um protesto. Na segunda-feira, 21, Dilma não compareceu à
outra visita, desta vez a Porto Alegre, onde inauguraria duas estações
de metrô que receberam verbas do Programa de Aceleração do Crescimento
(PAC), por conta de uma paralisação de metroviários.
Segundo o presidente do Núcleo Sindical do PSDB, maior partido de
oposição ao governo federal, Antônio de Sousa Ramalho, a dificuldade em
conversar com a presidente Dilma é muito grande. "Quando ela recebe
algumas pessoa das centrais (sindicais), ela corta a língua de
todo mundo porque só um ou outro pode falar e assim fica muito difícil
expor a reivindicação da classe trabalhadora. Deste jeito, é melhor nem
ter reunião", destaca o sindicalista, que também é vice-presidente da
Força Sindical. Segundo ele, a pauta empresarial no governo Dilma é
muito bem valorizada enquanto a sindical é bastante tímida.
A falta de interlocução adequada com o governo federal também é
citada pelos dirigentes da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo
Patah, e da Força Sindical, deputado federal Paulo Pereira da Silva
(PDT-SP), o Paulinho, licenciado da central para disputar as eleições
municipais de São Paulo. Eles reclamam que na gestão Dilma foram
realizadas apenas três reuniões com as centrais sindicais e que, durante
esses encontros, apenas a Central Única dos Trabalhadores (CUT) teve
voz ativa. Procurada, a CUT não quis se pronunciar.
Protestos. Na avaliação de Patah, os protestos, como
os que interferiram na agenda presidencial, foram ocasionados
principalmente pela falta de interlocução com Dilma. "Se tivesse mais
proximidade, tudo poderia ter sido evitado. Por mais duras que sejam
essas questões, a boa relação com as centrais poderia evitar tudo isso",
avalia. Patah afirma ainda que no governo do ex-presidente Lula havia
reuniões frequentes, até mensais, entre governo e lideranças sindicais.
"Isso valorizava nossas demandas", destaca.
O sindicalista adverte que a piora no cenário econômico pode aumentar
as tensões entre governo e sindicatos. "Quando o crescimento econômico
está razoável e tem emprego, as coisas são minimizadas. Mas com a crise
há possibilidade de as relações esfriarem ainda mais", diz. Patah lembra
que durante a crise econômica de 2008, devido à proximidade de Lula com
as centrais sindicais, houve parceria entre governo e sindicatos. "Ele
contou com o movimento sindical e a nossa contrapartida foi a manutenção
dos empregos nos pacotes econômicos", diz.
Paulinho e Ramalho também concordam com esta análise. Paulinho
reclama da falta de reuniões com o governo. "As reuniões existentes
foram apenas para marcar outras reuniões. Nada foi decidido. Isso tem
gerado muito desconforto", afirma.
Segundo o presidente licenciado da Força Sindical, não há ninguém no
governo federal apto para negociar com as centrais sindicais. "Precisa
ter alguém com quem conversar no governo Dilma", diz. "Quando o governo
indica alguém, essa pessoa não tem poder para resolver os problemas da
classe trabalhadora. É por isso que as relações vão se complicando."
Paulinho também defende a necessidade de o governo estabelecer uma
agenda e um canal eficiente de comunicação com os trabalhadores. "Falta
uma agenda (para os sindicatos) no governo Dilma", afirma.
http://www.estadao.com.br
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