Maurício Savarese Do UOL, em Brasília
“Quem não sabe virar a página não merece ler o livro.” É com essa
citação, atribuída a seu pai, que o senador Fernando Collor de Mello
(PTB-AL), 62, costuma se referir ao seu afastamento da Presidência da
República. Nesta quarta-feira (23), completam-se 20 anos das denúncias
que acabariam por remover do Palácio do Planalto o primeiro mandatário
eleito em quase três décadas.
veja.abril.com.br/Divulgação.
Quando a revista “Veja” publicou acusações que o empresário Pedro
Collor fazia ao irmão presidente, as reações dos parlamentares da
democracia brasileira estavam longe da descrença nas denúncias, mas
perto da tese de que o jovem sucessor de José Sarney continuaria no
cargo mesmo que enfraquecido. Se realmente o tesoureiro Paulo César
Farias movimentava dinheiro no exterior para beneficiar o presidente,
uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) descobriria.
nosrevista.com.br/Divulgação.
Apesar de a CPI surgir, muitos dos homens mais poderosos do Brasil não
defendiam a saída de Collor nem com o agravamento das denúncias. “O
doutor Ulysses Guimarães achava uma má ideia defenestrar logo o primeiro
que foi eleito”, disse ao UOL o senador Pedro Simon
(PMDB-RS), um dos principais articuladores da oposição naquele período.
“Muitos outros também não compraram a possibilidade, por medo de retorno
dos militares. Ninguém queria.”
Enviado por JWSCOMUNICACAO
em 16/10/2011
Último pronunciamento de Collor na TV,
pouco antes do impeachment em 1992. No dia 20 de setembro de 1992 ele
usou a rede nacional de TV para fazer a sua defesa. Gravação completa de
19 minutos.
A maioria dos aliados de Collor em 1992 prefere não desagradar o
senador de hoje. Mas, nos bastidores, afirmam que ex-presidente foi
arrogante e menosprezou os efeitos que a CPI traria. O secretário de
governo, Jorge Bornhausen, não teria recebido nenhum pedido enfático
para evitar a abertura da comissão. Também a deixou fluir na maior parte
do tempo, até que os governistas se tornaram minoria, por conta de uma
manobra política.
Quando Bornhausen agiu, uma rivalidade local pesou sobre a CPI. O
senador Esperidião Amin (PDS-SC) foi persuadido por semanas a abrir mão
de sua vaga na comissão em favor do ex-desembargador José Paulo Bisol
(PSB-RS). Com 12 membros, a oposição já podia aprovar convocações e
quebras de sigilos. “Foi aí que Collor começou a ver que era sério”,
disse o deputado federal Miro Teixeira (PDT-RJ).
Foi essa mudança de clima na CPI que viabilizou a convocação do
motorista Eriberto França, que trabalhava para a secretária de Collor. O
funcionário provou que pagava contas da Casa da Dinda, onde mora até
hoje o ex-presidente. Em seguida, apareceu um cheque vindo de uma conta
fantasma, emitido por um funcionário de PC Farias, para a compra de um
carro Fiat Elba para a primeira-dama. Suspeitava-se que houvesse até US$
50 milhões de Collor no exterior.
revistaviverbrasil.com.br/Divulgação.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjS0htizDtflqK4sRNTl-w26qJbdD8AJRSFnClW6tVp00nM30NlqvNiEyVn8g9CPbGdVAhn4wsyDuf4rTox55DPxkVqFpYLsRhvkZT1wsUfhueqIaVc3jCkbws_d4JIVJLJpfdfnhZIt0d3/s320/PC_Farias.jpg)
tudoglobal.com/Divulgação.
O movimento trouxe poucos resultados. E até aliados próximos já lhe
davam as costas – não necessariamente por conta das denúncias, mas
também por disputas por espaço político. Era o caso de seu ex-líder na
Câmara dos Deputados, o hoje senador Renan Calheiros (PMDB-AL), já
reatado com Collor. “Aquilo é passado, nem vale discutir”, resume o
peemedebista. O recado mais duro, no entanto, veio de um parlamentar de
perfil discreto.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjcy4sQa2Ept8ofCiDNyEU6K_MPUkRyz5cNAhj_L62NfAT9cte1ecHtnBwRzJ6rbGDtGW50fyvl82ocxSsdeKg0_syWMzF3URs7rmvmYUqjDAWBBsqZhbnuvprUenRGTrv9xifjqyakRuv9/s320/get_img.jpg)
Entre seus últimos aliados fieis, estava o deputado federal Roberto
Jefferson (PTB), que anos depois se tornaria pivô do escândalo do
mensalão, no governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
brasil247.com/Divulgação.
brasil247.com/Divulgação.
“No fim deu tudo certo”, relembra o senador Simon, sobre o primeiro
presidente afastado de acordo com o rito democrático e substituído sem
percalços na história brasileira. “Itamar Franco assumiu a Presidência,
houve um governo de união nacional, com a exceção do PT, e os militares
não voltaram. Talvez não tenha dado tudo certo para o Collor. Mas também
é fato que ele voltou.”
http://noticias.uol.com.br
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