terça-feira, 1 de maio de 2012

Contrastes de ‘Cidade de Deus’ dez anos depois

Elenco em cena do filme | Foto: Divulgação

Documentário mostra que parte do elenco se deu bem e outra, mal: um ator até ameaça os diretores de morte 

POR Guilherme Scarpa 

Rio - Um dos homenageados da 16ª edição do ‘Cine PE’, Fernando Meirelles conversou com O DIA sobre o prêmio pelo conjunto da obra que recebeu sábado à noite. Na ocasião, foram exibidos trechos do documentário ‘Cidade de Deus — 10 Anos Depois’, de Cavi Borges e Luciano Vidigal, sobre os atores revelados no filme que foi indicado a quatro Oscar em 2003. “Estou encarando esse prêmio como uma homenagem a ‘Cidade de Deus’ e aos colegas. Homenagem dá uma sensação de que você já fez tudo e foi colocado na prateleira”, analisa Meirelles, contente com a produção do documentário. “Eles pegaram 25 atores e estão mostrando o que aconteceu com eles. Uns se deram bem, outros, não. Acho que, através deles, também vemos o que aconteceu com o Brasil”, acredita.

Em 2002, Luciano Vidigal trabalhava como pesquisador de elenco em busca de atores para estrelar ‘Cidade de Deus’. Agora, em ‘10 Anos Depois’, ele assina a direção do documentário com Cavi Borges. “Tem gente que reclama de grana. Conseguimos R$ 70 mil, R$ 50 mil graças ao Meirelles, que articulou a verba com o Canal Brasil. Pagamos R$ 200 de cachê por entrevista”, revela Luciano. “Alice Braga e Tiago Martins não aceitaram. Seu Jorge ficou com os R$ 200”, confidencia. Luciano e Cavi querem ajudar os que passam por dificuldades. Um dos atores jura não ter ganhado um centavo com o primeiro filme e mora na rua. Ele estaria ameaçando os diretores do documentário. Cavi, depois de relutar, admite: “Não sabemos se vamos usar esse personagem, porque corro risco de vida. Ele exigiu mais do que o combinado. Filmamos e, depois, ele veio pedir R$ 1 mil”, conta Cavi. “Me pergunto o que posso fazer por eles”, diz Luciano. “Um ficou famoso por assaltar um ônibus. Marcelo Yuka conseguiu tirá-lo da cadeia. Ele é bipolar. Renato Souza, que fez o Marreco, se deslumbrou. Hoje, está pobre e sem dente. Queria pagar o implante”, exemplifica ele.

DVD do documentário sobre o filme Cidade de Deus | Foto: Divulgação

Quem colabora com a pesquisa para o documentário é Leandro Firmino, o famoso Zé Pequeno. “Ele engordou, faz cinema e tem uma filha. Encontramos o Felipe Paulino, que fez o menino que leva o tiro no pé, trabalhando em um hotel. Seu Jorge estava lá e filmamos os dois. É bom para mostrarmos os contrastes”, justifica Luciano. 

Projetos fora do Brasil 
Apesar de estar feliz com a realização do documentário, Meirelles preferiu não produzi-lo. “É para não ficar chapa branca. Se o Cavi quiser soltar a matraca contra mim, vai lá”, brinca ele. “Já faz muito tempo, foi uma experiência. ‘Cidade de Deus’ ficou maior do que qualquer sonho megalomaníaco. Virou um fantasma na minha vida. Depois do filme, fiz outros quatro”, diz ele, descontente com o atual momento do cinema brasileiro. Produtor de ‘Xingu’, encalhado com 300 mil espectadores em todo o Brasil, Meirelles, que pretendia voltar a filmar no País ano que vem, mudou de ideia. “Estou revendo essa vontade de ficar aqui”, confirma ele, que lança, no segundo semestre, o filme ‘360°’. “Estamos no momento das comédias, elas são importantes. Mas essas com interpretações e piadas de alta voltagem não fazem meu estilo. Sou um diretor que toca em temas globais”, define-se. 

Colaborou Priscilla Costa
http://odia.ig.com.br

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