RJ: catadores de Gramacho planejam vida pós-lixão


Jadson Marques / R7

Em maio de 2012, cerca de 1.500 trabalhadores vão se despedir do lugar de onde tiraram seu sustento durante anos. No entanto, ninguém vai sentir saudade. Com o fim das operações no aterro sanitário de Gramacho, em Duque de Caxias, Baixada Fluminense, os catadores agora tentam se adaptar às mudanças. Mas ainda é difícil fazer planos. O Fundo de Apoio aos Catadores, que vai destinar R$ 21 milhões aos trabalhadores, ainda não é visto como certeza. A maioria recorre à fé para manter o ânimo.


Paulo César Cerqueira tem 60 anos e há 12 trabalha no aterro de Gramacho. Morador de Imbariê, em Duque de Caxias, ele tem dificuldade de enxergar o futuro depois do fim do lixão. "Não tenho ideia do que fazer quando isso aqui fechar. Vou correr atrás de trabalho. Antes de vir para cá eu era pedreiro, mas estou fora do mercado há 12 anos. Eu pretendo fazer bicos para ganhar a vida"


A evangélica Maria Celina Deodoro da Silva, de 62 anos, usa um ditado popular que revela tanto sua fé quanto sua falta de perspectiva: “O amanhã a Deus pertence”. "Trabalho aqui há 15 anos. Antigamente dava pra sobreviver. Criei meus oito filhos com o dinheiro daqui, mas agora não está dando. Às vezes, arranjo R$ 20 ou R$ 40 por dia. Apesar disso, não sinto nada quando falam que vão fechar o Gramacho. Eu sou evangélica e nada me abala. Confio muito no Senhor". 


Se por um lado há incerteza, por outro há muita esperança. Flaviano Silva de Almeida, de 22 anos, quer usar o dinheiro do Fundo de Apoio aos Catadores para mudar de vida. “Com o dinheiro, quero reconstruir a minha vida. Eu vejo muito o sofrimento dos outros, então quero ajudar. Meu sonho é ser um assistente social”. 


Douglas Porto dos Santos está preocupado com os idosos que trabalham em Gramacho. O jovem de 21 anos acredita que será difícil para eles conseguirem emprego. “Eu comprei uma casa trabalhando aqui, mas tem muita gente que mora de aluguel. Fora isso, tem os idosos. Muitos lugares não vão aceitar. Graças a Deus, eu sou novo e estudo; posso correr atrás” 


Aos 42 anos, Leda Rosa não quer mais ser empregada. Ela pretende se organizar para não faltar nada para seus cinco filhos. “Eu não tenho mais paciência para trabalhar para ninguém. Estou aqui há 17 anos, sem patrão. Quando isso aqui acabar, vou organizar a minha vida. Na minha casa são seis pessoas e eu sou o pai e mãe dos meus filhos”. 


Mas não são só os catadores que estão preocupados com o fim das operações no lixão. Jean Carlos Franca, de 17 anos, tem uma pequena barbearia no Jardim Gramacho. Ele já pensa em procurar outro lugar para trabalhar. "Depois que fechar vou ter que arrumar outro ponto, porque aqui não dá para tirar mais nada. Moro com meus pais e o fechamento do aterro vai ter um impacto muito grande na minha família. É daqui que eu tiro nosso sustento". 


Cada um deve receber cerca de R$ 14 mil do Fundo de Apoio aos Catadores. Além disso, segundo a Secretaria Estadual do Ambiente, tanto os trabalhadores quanto os seus filhos poderão se inscrever em cursos profissionalizantes.O Governo do Estado negocia, também, a construção de galpões de reciclagem, que receberiam material da coleta seletiva. Municípios da baixada receberiam incentivos para implantar o sistema. 

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