Exército reproduz morte

Wellington Lopes da Silva, de 20 anos, primo Abraão, na delegacia | Foto: Severino Silva / Agência O Dia

Oficial acompanha investigação na Vila Cruzeiro. Primo de vítima denuncia ameaça

POR BRUNO MENEZES

Rio - Os quatro militares da Força de Pacificação — que ocupa os complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte —, envolvidos na ocorrência que resultou na morte do jovem Abraão da Silva Maximiano, de 15 anos, participaram na tarde de quarta-feira de uma reconstituição no local do crime. Abraão foi morto após ser atingido por um tiro de fuzil, que atravessou seus pulmões e destruiu sua coluna vertebral na segunda-feira, durante troca de tiros entre militares e criminosos da Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha. Durante a reprodução simulada, os militares indicaram aos oficiais que investigam o caso quais eram suas posições, onde estava a vítima e em que local o jovem foi atingido. Detalhes não foram divulgados. Um major do Exército, identificado como Benotti, chegou de Brasília especialmente para acompanhar as investigações. Ontem, o major acompanhou o depoimento do primo de Abraão, Wellington Lopes da Silva, de 20 anos, na 22ª DP (Penha). O jovem, que conta ter visto o primo ser baleado, contou que, depois dos disparos, foi ameaçado pelos militares, que tiveram suas armas apreendidas para perícia.

Wellington esteve na delegacia acompanhado da mãe e de mais duas mulheres, também parentes de Abraão, que acompanharam o depoimento. “Minha família veio me dar apoio. Não vamos ceder às ameaças e não vamos deixar a comunidade. Tem sido um sofrimento, mas vamos superar esse triste episódio”, lamentou Wellington, que está desempregado.

Integrantes da subsecretaria estadual de Defesa e Promoção dos Direitos Humanos procuraram a família e prometeram acompanhar o caso, assim como a Comissão de Direitos Humanos da Alerj. “O major que veio de fora, de Brasília, também nos disse que podemos ficar tranquilos, pois nada de mal vai acontecer. Ele nos ofereceu apoio e garantiu que os culpados pela morte do meu primo serão punidos com certeza”, completou Wellington.

Wellington mantém versão de jogo

De acordo com o depoimento de Wellington, os militares o ameaçaram de morte, apontando um fuzil para sua cabeça. “Eles me disseram que, como eu sou da mesma família, eles me matariam para que eu não pudesse denunciar a ação. E, assim, uma família só sofreria pelas duas mortes”, disse.

Wellington contou que jogava futebol com seu primo, minutos antes do tiroteio. “Acabou o jogo e fui tomar banho. Quando voltei, ouvi os tiros e vi meu primo cair. Eram rajadas. Durou mais de um minuto”, lembrou o jovem, que recusou ser incluído no Programa de Proteção à Testemunha.

Reconstituição

A Polícia Civil acompanhou a reconstituição do Exército, mas vai promover uma nova reprodução do crime na próxima quarta-feira. “Só saberemos o que aconteceu nessa data. Acredito que a reconstituição dure mais de quatro horas e que nos revele dados mais consistentes do fato”, informou o titular da 22ª DP, delegado José Pedro Costa da Silva.

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