Apontador do bicho que é vizinho de Beltrame perdeu as contas de quantas vezes foi preso pela polícia

Roberto Coutinho trabalha com o jogo do bicho desde 1973: "É o meu sustento, é só um trabalho" Foto: Guilherme Pinto / Extra
Paulo Carvalho

Preso seis vezes a pedido do secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, o apontador Roberto de Azevedo Coutinho, de 58 anos, é a face do jogo do bicho que mostra a cara nas ruas do Rio. Responsável pelas apostas em uma banca perto da casa do secretário em Ipanema, Roberto é quem acaba preso pela polícia acusado de contravenção, enquanto os chefes permanecem livres desfrutando do luxo proporcionado pela atividade ilegal. Coutinho ocupa o nível mais baixo da cadeia de crimes alimentados pela bicho: contra a economia popular, corrupção, contrabando, ameaça, sequestro e homicídio. Coutinho não considera uma afronta ao secretário o fato de ser preso e retornar ao mesmo ponto no mesmo dia para trabalhar. E disse respeitar a atitude de Beltrame.

— Ele (Beltrame) passa por lá, olha a gente trabalhando e balança a cabeça negativamente. Logo depois vem a polícia e prende todo mundo — contou o anotador.

Há dois meses no ponto em Ipanema, Coutinho perdeu as contas de quantas vezes já foi detido pela polícia. Segundo o anotador, mais de trinta com certeza. Só naquele ponto foram seis durante um mês. Mas a "contabilidade" das prisões faz surgir um fato inusitado: quando trabalhava em Botafogo, foi detido quatro vezes num mesmo dia pela polícia.

— Já perdi as contas de quantas vezes fui preso. Mas, apesar de saber que trabalho com atividade ilícita, é o meu sustento, sei também que estou apenas trabalhando — afirmou Coutinho.

Cestas básicas

Em todos os casos, o destino do apontador foi o mesmo: levado para uma delegacia, era autuado acusado de contravenção e liberado em seguida, de acordo com o que estabelece a Lei de Contravenções Penais, de 1941.
O bicho paga a cesta básica na Justiça para eu ser solto — disse o apontador.

Ganhando uma diária de R$ 30, Coutinho diz que tem respaldo dos chefes do bicho. São eles que pagam advogados para os anotadores e as cestas básicas estabelecidas pela Justiça como punição para a atividade ilegal. No mês passado, o anotador recebeu mais uma sentença pelo seu trabalho: o pagamento de R$ 1.200 em cestas básicas.
Dois dias sem trabalho

O apontador está há dois dias sem trabalhar — recebeu a determinação para que não retornasse, por enquanto, ao ponto, porque a polícia intensificou a repressão na Zona Sul. Em Ipanema, outros quatros apontadores foram presos ontem. A operação de repressão ao bicho chegou ao interior. Ontem, a polícia realizou a "Operação Aranha". A ação deteve 28 apontadores.

Os chefes da contravenção ficam livres

Enquanto os apontadores são presos e levados sob constrangimento para a delegacia, mostrando o lado mais fraco do jogo do bicho, os chefes são indiciados pela polícia, têm mandados de prisão expedidos em seus nomes, mas acabam soltos e continuam comandando a cadeia que move a contravenção. Na Operação Dedo de Deus, que aconteceu no último dia 17 de dezembro e foi coordenada pela Corregedoria da Polícia Civil, 84 pessoas foram indiciadas e 60 tiveram a prisão decretada pela Justiça. Entre os procurados estavam Aniz Abraão David, o Anísio, presidente da Beija-Flor; Luiz Pacheco Drummond, o Luisinho, presidente da Imperatriz Leopoldinense, e Hélio Ribeiro de Oliveira, o Helinho, presidente da Grande Rio. Dos considerados chefões da contravenção, apenas Mário Tricano, ex-prefeito de Teresópolis, foi preso na operação — mas já está solto. Os outros três contraventores permaneceram foragidos até serem beneficiados por habeas corpus expedidos pela Justiça, que lhes deu o direito de responderem pelas acusações em liberdade. Outros 20 suspeitos também ganharam liberdade.

http://extra.globo.com

Nota:  É o mesmo que enchugar gêlo. Porque não se regulariza o Jogo do Bicho, uma instituição que já está intranhada em nossa sociedade e faz parte de nossas vidas a muitos anos. Recolheria-se os devidos impostos, beneficiaria os governos de seus estados a união federal e acabaria com a corrupção que não deixa o tal jogo ser legalizado. Abriria inúmeros postos de trabalho e traria gente de fora, como se faz em muitos casos em outros países sul-americanos. É hipocrisia ter o jogo no país proibido, vejam os exemplos das loterias da Caixa Econômica Federal, um enorme sucessso. Obrigado.

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