Catamarã: pane fez motor acelerar em vez de reduzir

Catamarã cheio na manhã de ontem: passageiros também reclamam de demora em filas de até uma hora | Foto: Severino Silva / Agência O Dia

Painel apontara outra falha, mas não havia equipe de manutenção em Niterói para verificá-la

POR PÂMELA OLIVEIRA

Rio - O acidente com o catamarã Gávea I, que bateu contra um píer na Praça 15 deixando pelo menos 65 pessoas feridas, poderia ter sido evitado. Um problema no painel de controle da embarcação foi detectado em Niterói e a tripulação pediu manutenção, segundo depoimento de um membro da tripulação. Como só há o serviço na Praça 15, a decisão da concessionária foi que o catamarã seguisse viagem com 907 passageiros. Segundo denúncia recebida pelo Sindicato Nacional dos Condutores da Marinha Mercante e Afins, o objetivo era evitar tumultos e atrasos no horário de pico. Na altura do Aeroporto Santos Dumont, quando a velocidade deve ser reduzida para a atracação, a comandante Núbia Gomes Batalha desacelerou, mas o motor disparou — a rotação que nessa altura deve ser de cerca de 590 RPM chegou a 1800 RPM e a velocidade quase dobrou, passando de 8 nós para 14 nós. Logo depois, os dois motores pararam.

Quando os dois motores desligaram, não havia o que fazer. Ainda se tentou usar o motor da outra proa para levar a embarcação para a direção contrária à Praça 15, mas ele não funcionou. A única opção foi jogar a âncora”, relatou o tripulante.

Nesta terça-feira, marinheiros na Praça 15 reclamavam da falta de autonomia: “O problema é que, na verdade, o comandante não comanda nada. Ele é obrigado a seguir as ordens da sala de comando. Se discordar, pode ser demitido. Todos têm medo. A firma diz que não pode atrasar, que o cliente vai reclamar. Onde fica a segurança desse cliente, que deveria ser o mais importante? Em nota, a Barcas S/A nega as acusações. A Secretaria Estadual de Transportes informa que negocia R$ 350 milhões com o Banco do Brasil para investimento em novas embarcações e reforma das estações de Arariboia e Praça 15. A licitação deve acontecer em janeiro. O Ministério Pública Estadual pediu nesta terça-feira informações sobre o acidente a Barcas S/A, Agetransp e Capitania dos Portos.

Inquérito aberto na polícia

A 1ª DP (Praça Mauá) abriu inquérito para apurar as causas do acidente. O registro foi feito como lesão corporal culposa (não intencional). Os feridos, a comandante Núbia, e os responsáveis pela Barcas S/A serão intimados a depor. O laudo da perícia da Capitania dos Portos só ficará pronto em 90 dias. Além do píer avariado, outros dois foram interditados. A concessionária voltou a recomendar que sejam evitadas viagens entre 7h e 10h e 17h30 e 20h.

Primeira mulher a comandar barca

Quem estava à frente do Catamarã Gávea I era a primeira mulher a comandar uma embarcação da Barcas S.A.. Núbia Gomes Batalha, 31 anos trabalha na empresa há 13 e, há 3, assumiu o posto de comandante.

Núbia, 31 anos, trocou a Enfermagem pela carreira de comando no mar | Foto: Divulgação

Ela se destacou em um curso de Salvatagem em Plataformas Marítimas, com média 9,6. Núbia era técnica de enfermagem e trocou de carreira por influência do irmão, que era marinheiro-de-convés, espécie de ajudante geral na embarcação. Em entrevista ao ‘Meia Hora’, em 2008, ela contou que foi bem-recebida pelos passageiros: “Achei que poderia sofrer algum preconceito, mas tive uma recepção diferente do que imaginava”.

Tarifa das barcas pode sofrer um aumento de até 68% em fevereiro

Passageiros das barcas devem preparar o bolso. Em fevereiro, a tarifa pode ser reajustada em até 68%: a passagem Rio-Niterói, hoje R$ 2,80, pode chegar a R$ 4,70. O valor foi sugerido após estudo que apontou desequilíbrio financeiro da Barcas S/A de R$ 106,5 milhões entre 2003 e 2008. Na mesma sessão em que a Agetransp reconheceu o prejuízo, foram homologados reajustes de R$ 14 para R$ 49,55 (Angra-Abraão, no fim de semana). Rio-Cocotá, de R$ 3,40 saltaria para R$ 25,23. Enquanto não se define o aumento, os problemas se acumulam. A estudante Denise Motta, 22, perde 2 horas na fila todo dia: “É um inferno!” A Barcas diz que o movimento aumentou com o fechamento de estacionamentos perto da Praça 15 e com obras do Porto Maravilha. Em outubro, foram 103 mil passageiros, quando a média mensal é de 90 mil.

Colaboraram Christina Nascimento, Fernanda Alves e João Paulo Gondim
http://odia.ig.com.br

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