O 'drive-thru' de cerveja nas vias expressas do Rio

Mato saindo até pelas janelas de ônibus mostram o abandono do local | Foto: Maíra Coelho / Agência O Dia

Em 5 dos principais corredores viários, motoristas têm acesso fácil a bebidas alcoólicas

POR FRANCISCO EDSON ALVES

Rio - Uma das mãos no volante, outra na lata de cerveja. Com a chegada do calor, a facilidade que motoristas encontram para comprar bebidas alcoólicas nas principais vias expressas da Região Metropolitana do Rio assusta. A precária fiscalização para flagrar motoristas dirigindo e bebendo à luz do dia preocupa autoridades e especialistas em segurança no trânsito.

Por duas semanas, a ‘Blitz do DIA’ monitorou, com vídeos e fotografias, trechos movimentados de cinco vias: as linhas Vermelha e Amarela, as avenidas Brasil e Ayrton Senna e a Via Dutra. Em horário de pico ou trechos em obras, é só o engarrafamento se formar que os camelôs se multiplicam no asfalto. Nos pontos de mais retenção observados nas cinco estradas, havia pelo menos 250 vendedores em atividade. Entre garrafas de água e refrigerantes, latas de cerveja são vendidas geladas, prontas para beber, sem qualquer repressão. O comércio ambulante nas vias é irregular e dá ainda mais combustível para a mistura inflamável de álcool e direção.

Motoristas não tiveram dificuldade para conseguir cerveja longe de blitzes, simulando serem compradores para flagrar a venda ilegal livre. “Pode tomar à vontade. Não tem fiscalização, não. Se tivesse, a gente não botava (cerveja à venda)”, garantiu um dos cerca de 70 camelôs que se arriscam todo dia na Dutra, sentido São Paulo, de São João de Meriti a Belford Roxo.

Segundo a ONG Rio Como Vamos, com base em dados do Instituto de Segurança Pública, morreram quase duas pessoas por dia em acidentes de trânsito na cidade do Rio no primeiro semestre de 2010. Este ano, no mesmo período, foram 313 mortes. Em um só dia de Operação Lei Seca na Avenida Brasil no início do ano, foram flagrados 14 motoristas embriagados, dois com nível alcoólico que configurava crime.

Álcool causa 70% dos acidentes

Crianças, idosos e até grávidas arriscam a vida nas vias como ambulantes. “O maior perigo são as motos”, diz uma mulher, gestante de 5 meses, que atua na Dutra. “Além do perigo para os ambulantes, 70% dos acidentes no Brasil são causados por bêbados. Fruto da precariedade na repressão a infratores”, indigna-se Fernando Moreira, da Associação Brasileira de Medicina no Trânsito.

 Enviado por TVODia

As concessionárias alegam que não têm poder de polícia. E a Secretaria de Ordem Pública do município reconhece ter “dificuldades para realizar blitzes dentro das vias expressas”, mas diz que vai começar a fiscalizar camelôs nesses locais.

AMBULANTE DIZ QUE FALTA DE FISCALIZAÇÃO O AJUDA
Entre S. J. de Meriti e Nova Iguaçu, sentido São Paulo, o trecho da Via Dutra fica congestionado diariamente. Prato cheio para os mais de 60 camelôs que atuam no trecho venderem cerveja. “Pode levar sem preocupação. Se tivesse fiscalização, a gente não botava (cerveja à venda)”, garantiu um deles.

SUGESTÃO DE CAMELÔ: “TOMA NO ACOSTAMENTO
Na Linha Vermelha, na altura da Favela da Maré, sentido Centro, os ambulantes sugerem aos motoristas que parem no acostamento para degustar cerveja com mais calma. “Para ali (apontando o acostamento), disse um camelô na segunda-feira, acionado por outro: “Felipe! Cerveja!”, gritou o amigo dele, que não tinha a bebida.

NEM A PRESENÇA DE PMS INIBE A VENDA DE CERVEJA
Perto do entroncamento com a Linha Vermelha, na Maré, camelô atesta que não há repressão: “Os PMs ficam aqui (ao lado dele)”. Segundo a concessionária Lamsa, 20 atropelamentos já foram registrados na via este ano, resultando em duas mortes. A Lamsa faz campanhas periódicas contra o problema.

TRÂNSITO CAÓTICO POR CAUSA DE OBRAS É A SENHA
Para muitos motoristas, o suplício de ter que esperar quase uma hora para atravessar a Av. Ayrton Senna, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste, é regado a cerveja gelada. “Fica tranquilo que não tem blitz. O trânsito ‘tá parado por causa das obras”, avisou um dos ambulantes, na terça-feira passada, oferecendo um latão de cerveja.

MENOR VENDE CERVEJA EM ISOPOR NA AV. BRASIL
Na marginal da via, uma das que têm o trânsito mais violento, na altura de Manguinhos, em frente à Fiocruz, sentido Zona Oeste, menino vende diariamente bebida alcoólica. Perguntado se há fiscalização naquele trecho, ele responde: “Só o Choque (batalhão), às vezes (incomoda)”. Ao lado, várias barracas vendem até uísque.

6 DECIGRAMAS
de álcool por litro de sangue. Parâmetro que, se ultrapassado no teste do bafômetro, vira crime. O artigo 165 do Código de Trânsito Brasileiro classifica como gravíssimo dirigir sob a influência de álcool. As penas incluem multa, retenção do veículo e suspensão do direito de dirigir. Entre 2 e 6, é infração administrativa

50 MIL
Quantidade de pessoas que morrem, em média, anualmente, no Brasil, em acidentes de trânsito. O total de feridos chega a 300 mil. O Brasil está no topo da lista de países com trânsito mais violento em todo o mundo. O total chega a um milhão de colisões e atropelamentos por ano

1 MORTE DIÁRIA
Segundo a estatística do Corpo de Bombeiros, o número trágico é consequência de 12 atropelamentos por dia na cidade do Rio só este ano. Boa parte aconteceu nas rodovias, principalmente na Av. Brasil, uma das mais movimentadas. A idade média das vítimas era de 18 a 29 anos, e a maioria, do sexo masculino.

5 SEGUNDOS
Tempo que motorista levou para conseguir uma latinha na Linha Vermelha, na altura da Favela da Maré. A compra não foi concluída. Em todas as vias expressas visitadas por O DIA , foi só pedir e, imediatamente, conseguir a oferta da bebida. Aos gritos, os camelôs anunciam: “Cerveja! O latão é R$ 3”.

http://odia.ig.com.br

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