quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Na ONU, Dilma defende Palestina e diz ser 'voz da igualdade'

Dilma discursa durante a Assembleia Geral da ONU - Foto: AP

Eduardo Graça
Direto de Nova York

A primeira mulher a abrir uma Assembleia Geral da ONU - honraria tradicionalmente dada ao Brasil - a presidente Dilma Rousseff usou pouco menos de meia hora para pronunciar um discurso forte, emocionado, em que defendeu o reconhecimento do Estado Palestino e afirmou que o "Brasil está pronto para assumir uma cadeira no Conselho de Segurança", o órgão mais importante da entidade.

"Pela primeira vez na história da ONU uma voz feminina inaugura esta sessão. É a voz da democracia e da igualdade. Divido esta emoção com mais da metade das pessoas deste planeta. Na língua portuguesa, esperança, coragem e sinceridade são palavras femininas", disse a presidente, muito aplaudida.

"Sinto-me, aqui, representando todas as mulheres do mundo. As mulheres anônimas, aquelas que passam fome e não podem dar de comer a seus filhos, as que padecem de doenças e não podem se tratar, aquelas que sofrem violência e são discriminadas no emprego, na sociedade e na vida familiar. Aquelas que, no trabalho do lar, criam as gerações futuras. Junto minha voz às vozes das mulheres que ousaram lutar, que ousaram participar da luta política e da vida profissional, e conquistaram o espaço de poder que me permite estar aqui hoje. Como mulher que sofreu tortura no cárcere, sei como são importantes os valores da democracia, da liberdade, da justiça e dos direitos humanos", afirmou.

Ao contrário de anos anteriores, a delegação brasileira não liberou o discurso da presidente, que o chanceler Antônio Patriota anunciara na tarde de ontem como um documento "histórico". De acordo com a assessoria do Itamaraty, a presidente mudou trechos de sua fala até o último minuto, além de abrir espaço para virtuais improvisações.

A presidente defendeu um maior protagonismo dos países emergentes nas grandes discussões econômicas e foi direta: "Os países emergentes são hoje os principais responsáveis pelo crescimento da economia mundial. O mundo se defronta com uma crise que é, ao mesmo tempo, econômica, de governança e de coordenação política. Um novo tipo de cooperação entre países emergentes e desenvolvidos é a oportunidade histórica para redefinir, de forma solidária e responsável, os compromissos que regem as relações internacionais".

Exatamente antes de o presidente Obama fazer um discurso em que rejeitou a ambição da Autoridade Palestina de se tornar membro permanente da ONU, vista como um "atalho" para o processo de paz, Rousseff também não foi tímida. "Lamento não poder saudar, desta tribuna, o ingresso pleno da Palestina na ONU. Assim como a maioria dos países nesta assembleia, acreditamos que é chegado o momento de termos a Palestina aqui representada a título pleno. O reconhecimento ao direito legítimo do povo palestino à soberania e à autodeterminação amplia as possibilidades de uma paz duradoura no Oriente Médio", disse a presidente.

Dilma criticou a política externa americana de modo direto. "A busca da paz e segurança no mundo não pode limitar-se a intervenções em soluções extremas. O mundo hoje sofre as dolorosas consequências de intervenções que agravaram os conflitos, possibilitando a infiltração do terrorismo onde ele não existia, inaugurando novos ciclos de violência e multiplicando o número de vítimas civis", afirmou, em uma clara referência às ocupações militares do Iraque e do Afeganistão. Também pontuou que "liberdade" é um ideal universal, que não pertence a nenhuma cultura especificamente, e ainda lembrou que todos os países do mundo, sem exceção, sofrem com problemas relacionados aos direitos humanos.

A presidente foi aplaudida novamente ao defender a reforma imediata do Conselho de Segurança da ONU, "corroído em sua credibilidade e eficácia por não representar a realidade política e econômica de nossos tempos". "Esta crise econômica é séria demais para ser administrada apenas por uns poucos países. Não é por falta de recursos financeiros que os países desenvolvidos ainda não encontraram uma solução para a crise. É, permitam-me dizer, por falta de recursos políticos e clarezas de ideias. Enquanto muitos governos se encolhem, a face mais amarga da crise - a do desemprego - se amplia", disse.

A presidente hoje tem ainda agenda intensa, com reuniões a portas fechadas com diversos líderes mundiais, entre eles o presidente da França, Nicolas Sarkozy, e o primeiro-ministro britânico, David Cameron.

noticias.terra.com.br



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