Deputados atribuem absolvição de Jaqueline a voto secreto

Jaqueline foi flagrada recebendo suposta propina do ex-secretário de Relações Institucionais do DF
Foto: Luiz Xavier/Agência Câmara

Após a votação na Câmara que livrou a deputada Jaqueline Roriz (PMN-DF) do processo de cassação a que ela respondia na Casa, colegas da parlamentar atribuíram o resultado ao voto secreto utilizado na sessão. Filha do ex-governador do Distrito Federal Joaquim Roriz, ela foi flagrada recebendo suposta propina do ex-secretário de Relações Institucionais do DF Durval Barbosa, delator do esquema conhecido como Mensalão do DEM. As informações são da Agência Câmara.

O deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), relator do processo, destacou que havia provas contra confirmadas contra Jaqueline e que suas ações afetaram a imagem da Casa. "Ela conseguiu dividir o ônus de seu comportamento com todos os deputados da Câmara", afirmou, sobre o resultado da votação.

No Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, Sampaio havia defendido que Jaqueline fosse cassada, ainda que o vídeo em que recebe dinheiro de Barbosa tenha sido feito em 2006, antes, portanto, no início de seu mandato atual e época em que concorria a uma cadeira na Câmara Legislativa do Distrito Federal. Sampaio argumentara que a suposta propina, que a deputada classificou como caixa dois de campanha, não era conhecida pelos eleitores quando ela foi alçada à condição de parlamentar, o que não daria a ela o argumento de ter sido "absolvida nas urnas".

O parlamentar Reguffe (PDT-DF) também disse acreditar que o voto secreto foi responsável pela absolvição da colega e que a falta do voto aberto é a matriz de uma "indústria de impunidade" na Câmara. "Essa decisão de hoje vai aprofundar o fosso que já existe e separar ainda mais o Congresso do povo brasileiro", disse.

Para o líder do Psol, deputado Chico Alencar (RJ), a decisão mostrou que muitos parlamentares têm medo do próprio passado e votaram em autoproteção. "Foi uma vitória de um voto que não foi assumido. Os partidos não orientaram a votação e os deputados se protegeram com o voto secreto", afirmou.

Jaqueline Roriz foi absolvida com placar de 265 votos a 166. Para que a parlamentar fosse cassada, era preciso que houvesse no mínimo 257 votos favoráveis entre os 513 deputados.

Defesa diz que esperava absolvição

O advogado da deputada, Eduardo Alckmin, afirmou que o resultado da votação era esperado. "A tradição da jurisprudência da Casa é não permitir que fato anterior ao mandato seja julgado sob a ótica da quebra de decoro parlamentar", disse.

Para o advogado, a imagem do Legislativo não fica abalada pela decisão. "O Parlamento agiu corretamente e aplicou rigorosamente a lei. Quem se dispuser a analisar o fato, não vai fazer mau juízo do Parlamento, pelo contrário. Apesar de toda a pressão externa, o Legislativo soube dar a resposta correta ao caso", disse.

Em seu pronunciamento antes da votação, Jaqueline criticou o que classificou de "implacável condenação" por "juízos apressados". "Cada um de nós carrega sua história e eu carrego a minha. Nesse doloroso processo, sofri constrangimentos perante meus pais, irmãs, filhos, amigos e eleitores. Foram fatos tratados por coloração partidária, preferências ideológicas. Sei que nesse Plenário tem muitos colegas que já passaram por isso e outros que podem passar. Nessa Casa não há espaço para condenações sumárias", disse a deputada, atribuindo as acusações ao "jornalismo predatório".

O mensalão do DEM

O chamado mensalão do DEM, cujos vídeos foram divulgados no final de 2009, é resultado das investigações da operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal. O esquema de desvio de recursos públicos envolvia empresas de tecnologia para o pagamento de propina a deputados da base aliada.

O então governador José Roberto Arruda (sem partido, ex-DEM) aparece em um dos vídeos recebendo maços de dinheiro. As imagens foram gravadas pelo ex-secretário de Relações Institucionais, Durval Barbosa, que, na condição de réu em 37 processos, denunciou o esquema por conta da delação premiada. Em sua defesa, Arruda afirmou que os recursos recebidos durante a campanha foram "regularmente registrados e contabilizados". Em meio ao escândalo, ele deixou o Democratas.

As investigações da Operação Caixa de Pandora apontam indícios de que Arruda, assessores, deputados e empresários podem ter cometido os crimes de formação de quadrilha, peculato, corrupção passiva e ativa, fraude em licitação, crime eleitoral e crime tributário.

Acusado de tentar subornar o jornalista Edmilson Edson dos Santos, o Sombra, testemunha do caso, Arruda foi preso preventivamente em fevereiro de 2010, por determinação do Superior Tribunal de Justiça, que ainda o afastou do cargo de governador. Ele ficou preso por dois meses e, neste período, teve o mandato cassado por desfiliação partidária.

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