quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Jacob Barata, o 'Rei dos Ônibus', confirma em audiência pagamento de R$ 145 milhões a Sérgio Cabral

Empresário falou que pagamentos eram 'quase obrigatórios' para que o setor rodoviário não fosse 
prejudicado. Barata também revelou que há um procedimento sigiloso sobre administração municipal.


Por Gabriel Barreira, G1 Rio

O empresário Jacob Barata Filho confirmou, em audiência na Justiça Federal nesta quarta-feira (12), o pagamento de cerca de R$ 145.000.000,00 ao ex-governador Sérgio Cabral (MDB), entre 2010 e 2016. Jacob Barata não detalhou o que deste pagamento foi propina e o que foi utilizado para a campanha do ex-governador. Barata está em prisão domiciliar e é conhecido como "Rei dos Ônibus", por ser uma das principais figuras do transporte rodoviário no Estado. A defesa de Sérgio Cabral afirmou que Jacob Barata não apresentou provas no depoimento. "Primeiro disse que houve contribuição de campanha. Em resposta ao MPF, acabou convolando essa contribuição de campanha em propina. Não demonstrou nenhuma prova, nem como teria sido feito esse repasse. Assim como o senhor Carlos Miranda, são apenas palavras. Não tem sequer um documento que indicie a veracidade do que está falando", explicou em nota a defesa do ex-governador.

A informação foi antecipada pelo "Blog da Andréia Sadi", no G1. Os valores irregulares teriam sido feitos pela Fetranspor e foram denunciados pelo Ministério Público Federal (MPF) na "Operação Ponto Final". A denúncia cita um esquema existente nas últimas duas décadas, mas o empresário do setor rodoviário disse que os casos são ainda mais antigos. "Sempre houve pagamento de, no mínimo, um apoio de campanha através de caixa dois pelas empresas. Gostaria até de mencionar: o único governo que não tivemos apoio de campanha política foi o primeiro governo do Leonel Brizola (1983 -1987), isso em função de falta de entendimento político", disse Barata. O empresário contextualizou o momento político, dizendo que o candidato favorito era Miro Teixeira, e que a vitória de Brizola foi inesperada. Barata ressaltou que essa é uma "leitura pessoal""Talvez por uma questão ideológica, não dá para afirmar, mas o fato é que a falta de entendimento do setor de transporte com o governo fez com o que governo não repassasse nenhuma [elevação da] tarifa [de acordo com a inflação]". Depois, ao relatar sua experiência no ramo, ele disse que a família está no setor desde a década de 50 e que, mais recentemente, as "contribuições de campanha eram quase obrigatórias".

A audiência foi conduzida pelo juiz Marcelo Bretas, que questionou se o esquema de pagamentos irregulares também existia na administração municipal - sem detalhar qual gestão. "Os pagamentos que não são afetos a essa acusação... existe um procedimento junto ao Ministério Público Federal que está em sigilo, então não posso falar nesse caso", declarou Barata.

Antes dele, o ex-presidente do conselho de adminstração da Fetranspor Marcelo Traça também foi questionado sobre o assunto. Ele deu a entender que havia o esquema irregular na administração municipal na capital, mas disse que sua empresa era de Niterói. A delação de Traça acabou causando a prisão de Rodrigo Neves, prefeito de Niterói. "A tratativa municipal [no Rio] era diretamente com os sindicatos [das empresas de ônibus] dos municípios"

Audiências
São ouvidos também nesta quarta o empresário Marcelo Traça Gonçalves, ex-presidente do conselho de administração da Fetranspor; Lélis Teixeira, ex-presidente da Fetranspor; e Luiz Carlos Bezerra, um dos operadores de Sérgio Cabral,

No último interrogatório, em agosto, o "Rei dos Ônibus" admitiu a existência da caixinha da Fetranspor, a federação das empresas de ônibus. De acordo com o relato dele, eram arrecadados até R$ 6 milhões por mês para pagar propina a políticos.

O Ministério Público Federal afirma que o esquema começou há duas décadas. "Havia um acordo de pagamento para o deputado Jorge Picciani. O objetivo exatamente, a forma de pagamento, eu não sei precisar. Mas realmente o Jorge Picciani, como presidente da Alerj, teria que ter essa contribuição porque os projetos todos passam pela Assembleia", disse ele à época.

g1.globo.com

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