Na 14ª DP (Leblon) não havia papel para
imprimir registro de ocorrência neste domingo.
Fachada da 14ª DP (Leblon)
PAULO CAPPELLI
Rio - Quem precisou registrar ocorrência no domingo na 14ª DP (Leblon) se deparou com uma situação inusitada: não havia papel para imprimir o documento. Coladas à 14ª DP, a Delegacia de Atendimento ao Turista (Deat) e a Divisão Anti-Sequestro (DAS), a três quarteirões da praia, têm enfrentado a mesma situação de penúria por conta da crise financeira do estado. “Outro dia, os colegas da Deat vieram aqui pedir papel, e a gente não tinha. Como na DAS também estava em falta, tiveram que ir até a 15ª (DP, na Gávea) para conseguir”, diz um policial civil da 14ª DP que preferiu não se identificar por temer represálias. Durante parte da manhã e da tarde de domingo, funcionários da delegacia do Leblon preenchiam registros de ocorrência no computador, mas pediam às vítimas que retornassem em três ou quatro dias para receber o documento físico. Ainda no início da noite, a delegada-titular, Monique Vidal, perguntava a outros policiais se a questão havia sido resolvida. Tanto na 14ª DP quanto na Deat, quem precisava usar o banheiro logo sentia falta de outro papel: o higiênico. E os problemas não param por aí. Como na delegacia especializada no atendimento a turistas o banheiro masculino está interditado, homens e mulheres são obrigados a dividir o feminino. Na 14ª DP a situação se inverte: o toalete masculino é que está fechado, obrigando homens e mulheres a compartilhar o feminino.
MAIS DIFICULDADES
“Não bastam os problemas com pagamento de salário e hora-extra. Estamos sem receber hora-extra há meses. O banheiro interditado é o de menos. Nós damos o sangue aqui para atender a população. E olha que as dificuldades são grandes. Quando não falta papel, é a impressora que quebra”, diz um profissional. No domingo, um policial militar ia entrando no banheiro e, ao perceber que já havia uma mulher dentro, recuou e aguardou na recepção.
Se a 14ª DP, instalada num bairro nobre, é repleta de carências, a delegacia especializada em atender turistas tampouco recebeu privilégios em 2016, o ano dos Jogos Olímpicos. Por conta de um ar-condicionado quebrado, um ventilador foi improvisado sobre uma cadeira para amenizar o calor onde fica uma das baias destinadas aos policiais. Um outro ar-condicionado, este na sala de espera da Deat, joga água sobre os telefones orelhões instalados na unidade e forma uma poça no chão. Se há abundância de água no piso, falta para beber. Sem filtro ou bebedouro no local, funcionários têm levado para o trabalho garrafas d’água de plástico para matar a sede. Em frente à recepção, mais um sinal da falta de recursos: um livro serve como suporte para equilibrar uma mesa.
Em frente à recepção da Delegacia de Atendimento ao Turista (Deat),
um livro serve como suporte para equilibrar a mesa do computador.
Crise reduz investimentos
Mergulhado numa espiral de problemas e quase falido, o governo do estado anunciou em fevereiro corte de R$ 18,4 bilhões no orçamento para este ano. O contingenciamento atinge em cheio a área da Secretaria de Segurança, que perdeu R$ 2 bilhões, 32% dos R$ 10,2 bilhões que estavam previstos inicialmente. Pouco mais de um mês após o anúncio do corte, o secretário José Mariano Beltrame disse que a crise econômica do estado reduziu os investimentos da pasta “a quase zero”. De acordo com Beltrame, os gastos da Secretaria estão restritos ao pagamento da folha salarial e ao custeio burocrático. Beltrame, porém, disse que as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) receberão, ainda este ano, investimentos por causa de doações oriundas do Fundo Especial da Assembleia Legislativa.
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