segunda-feira, 4 de abril de 2016

Penúria por conta da crise atinge delegacias da Zona Sul

Na 14ª DP (Leblon) não havia papel para
imprimir registro de ocorrência neste domingo.


Fachada da 14ª DP (Leblon)
PAULO CAPPELLI

Rio - Quem precisou registrar ocorrência no domingo na 14ª DP (Leblon) se deparou com uma situação inusitada: não havia papel para imprimir o documento. Coladas à 14ª DP, a Delegacia de Atendimento ao Turista (Deat) e a Divisão Anti-Sequestro (DAS), a três quarteirões da praia, têm enfrentado a mesma situação de penúria por conta da crise financeira do estado. “Outro dia, os colegas da Deat vieram aqui pedir papel, e a gente não tinha. Como na DAS também estava em falta, tiveram que ir até a 15ª (DP, na Gávea) para conseguir”, diz um policial civil da 14ª DP que preferiu não se identificar por temer represálias. Durante parte da manhã e da tarde de domingo, funcionários da delegacia do Leblon preenchiam registros de ocorrência no computador, mas pediam às vítimas que retornassem em três ou quatro dias para receber o documento físico. Ainda no início da noite, a delegada-titular, Monique Vidal, perguntava a outros policiais se a questão havia sido resolvida. Tanto na 14ª DP quanto na Deat, quem precisava usar o banheiro logo sentia falta de outro papel: o higiênico. E os problemas não param por aí. Como na delegacia especializada no atendimento a turistas o banheiro masculino está interditado, homens e mulheres são obrigados a dividir o feminino. Na 14ª DP a situação se inverte: o toalete masculino é que está fechado, obrigando homens e mulheres a compartilhar o feminino.

MAIS DIFICULDADES
“Não bastam os problemas com pagamento de salário e hora-extra. Estamos sem receber hora-extra há meses. O banheiro interditado é o de menos. Nós damos o sangue aqui para atender a população. E olha que as dificuldades são grandes. Quando não falta papel, é a impressora que quebra”, diz um profissional. No domingo, um policial militar ia entrando no banheiro e, ao perceber que já havia uma mulher dentro, recuou e aguardou na recepção.

Se a 14ª DP, instalada num bairro nobre, é repleta de carências, a delegacia especializada em atender turistas tampouco recebeu privilégios em 2016, o ano dos Jogos Olímpicos. Por conta de um ar-condicionado quebrado, um ventilador foi improvisado sobre uma cadeira para amenizar o calor onde fica uma das baias destinadas aos policiais. Um outro ar-condicionado, este na sala de espera da Deat, joga água sobre os telefones orelhões instalados na unidade e forma uma poça no chão. Se há abundância de água no piso, falta para beber. Sem filtro ou bebedouro no local, funcionários têm levado para o trabalho garrafas d’água de plástico para matar a sede. Em frente à recepção, mais um sinal da falta de recursos: um livro serve como suporte para equilibrar uma mesa.


Em frente à recepção da Delegacia de Atendimento ao Turista (Deat), 
um livro serve como suporte para equilibrar a mesa do computador.
Crise reduz investimentos
Mergulhado numa espiral de problemas e quase falido, o governo do estado anunciou em fevereiro corte de R$ 18,4 bilhões no orçamento para este ano. O contingenciamento atinge em cheio a área da Secretaria de Segurança, que perdeu R$ 2 bilhões, 32% dos R$ 10,2 bilhões que estavam previstos inicialmente. Pouco mais de um mês após o anúncio do corte, o secretário José Mariano Beltrame disse que a crise econômica do estado reduziu os investimentos da pasta “a quase zero”. De acordo com Beltrame, os gastos da Secretaria estão restritos ao pagamento da folha salarial e ao custeio burocrático. Beltrame, porém, disse que as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) receberão, ainda este ano, investimentos por causa de doações oriundas do Fundo Especial da Assembleia Legislativa.

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