quinta-feira, 12 de julho de 2018

Equipamentos e materiais médicos viram sucata no Hospital Estadual Eduardo Rabello


Monitores cardíacos e outros equipamentos abandonados no depósito do hospital há anos 
Flávia Junqueira 

Camas hospitalares, monitores cardíacos, cadeiras de rodas, suportes para soro e uma enorme quantidade de outros insumos e equipamentos nunca utilizados estão virando sucata num depósito do Hospital Estadual Eduardo Rabello, em Campo Grande, na Zona Oeste. Entre o material encontrado durante uma inspeção judicial realizada pelo Ministério Público do Estado do Rio (MPRJ), há até um tomógrafo computadorizado. Enquanto milhões de reais se perdem no abandono, pacientes da unidade, que existe há 44 anos e já foi referência para atendimento a idosos, sofrem sem medicação. Segundo a promotora Luciana Direito, até mesmo o soro está sendo fornecido pelos acompanhantes dos idosos internados na unidade.


Aparelhos para aferir pressão estão entre os itens abandonados no depósito.

A inspeção, realizada na última quinta-feira pela Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva de Proteção ao Idoso e à Pessoa com Deficiência da Capital do MPRJ, faz parte de uma ação civil pública ajuizada contra o governo estadual e o Instituto de Assistência dos Servidores do Estado do Rio (Iaserj). No depósito do Eduardo Rabello, técnicos verificaram que, entre os diversos equipamentos e materiais hospitalares nunca utilizados, alguns já estão sem condições de funcionamento devido aos anos de abandono. — Todo esse material foi catalogado pela direção que assumiu a unidade há dois meses. E, apesar de liminar deferida em março, o Estado não adotou qualquer providência para retirá-lo do local e distribuí-lo para hospitais carentes de equipamentos — afirma a promotora, acrescentando que apenas 30 leitos estão ocupados por idosos, apesar de o hospital ter capacidade para cerca de 200 leitos. — Apenas uma ala montada de forma precária está funcionando. O restante está caindo aos pedaços.


O tomógrafo ainda está encaixotado e já não teria mais condições de uso.


Cadeiras de rodas e mesas cirúrgicas estão entulhadas no depósito do Eduardo Rabello.

Segundo Luciana, um amplo espaço onde funcionaria a fisioterapia, para reabilitação de idosos, está abandonada: — O Hospital Eduardo Rabello foi montado para ser referência para tratamentos de idosos de baixa complexidade e, dessa forma, desafogaria outros hospitais gerais. Mas toda aquela estrutura foi se deteriorando em função do abandono no decorrer dos anos.


Incubadora para recém-nascidos e outros equipamentos abandonados.

Vistoria não encontra médico nem remédios.
A falta de médicos na unidade também chamou a atenção durante a inspeção. — Apesar de haver um quantitativo expressivo de médicos lotados no hospital, especialmente após a municipalização de hospitais, no momento da inspeção, nos informaram que havia um único médico plantonista, mas não conseguimos localizá-lo — relata a promotora.

Segundo Luciana Direito, não havia remédios na farmácia do hospital: — Um funcionário nos informou que há mais de dois anos não tem antibióticos na farmácia da unidade. Não fralda. Tudo é levado pelos familiares dos pacientes, até esparadrapo.


Prateleiras completamente vazias na farmácia do hospital estadual.

Na única ala em funcionamento do hospital, a vistoria constatou que a climatização “não foi realizada a contento”. — Encontramos aparelhos de ar-condicionado usados e instalados de forma irregular. Em dois quartos, não havia refrigeração — diz a promotora. Segundo a Secretaria estadual de Saúde, a ala que está funcionando entrou em reforma em março e ficou pronta recentemente, estando toda climatizada. Problemas estruturais também foram verificados durante a inspeção do MPRJ. Um castelo d’água (reservatório de água elevado) corre risco de desabamento iminente, o que pode comprometer a estrutura de todo o hospital, conforme atestou laudo da Defesa Civil. O MPRJ expediu um ofício para que a Secretaria estadual de Saúde esclareça sobre os materiais encontrados no depósito, a destinação deles e os problemas de atendimento e abastecimento encontrados na unidade.


Caixas lotadas de insumos cirúrgicos caros estão sem uso no hospital estadual.


Suportes para soro ainda embalados e novos.
Material veio do Iaserj
A Secretaria estadual de Saúde (SES) afirmou que os equipamentos e materiais médicos encontrados pela inspeção do MPRJ no Eduardo Rabello, incluindo o tomógrafo, são oriundos do Iaserj. Em nota, alegou que “esses materiais aguardavam determinação judicial para a retirada da unidade”. A secretaria ressaltou que o tomógrafo já chegou ao hospital geriátrico de Campo Grande sem condições de uso. Sobre a falta de remédios na unidade, a secretaria informou que a “reposição de medicamentos é realizada semanalmente pela SES até que a unidade migre para gestão da Fundação Saúde”.

Sem informar o valor do orçamento anual nem quanto médicos estão lotados no hospital, a secretaria se limitou a responder que as obras numa ala do prédio, iniciadas em março, estão concluídas e com climatização em “pleno funcionamento” e que o “processo para obras no castelo d’água já foi iniciado”.

extra.globo.com

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