quarta-feira, 22 de março de 2017

Seis mil rodoviários estão em tratamento.

Transtornos psicológicos por violência e estresse afastam 20% dos motoristas e cobradores das funções na região.


Ailton, motorista do 409, chega à 76ª DP após o assalto de ontem.
GUSTAVO RIBEIRO

Rio - "Rolou um estresse e acabei ficando cansado disso tudo. Meu cabelo caiu no lado direito. Adquiri hipertensão e hoje tomo remédio duas vezes por dia”. O relato é do motorista Wladimir Garcia de Matos, 41. O medo e a exposição constante a assaltos causaram no profissional uma série de problemas de saúde ao longo dos quatro anos em que dirigiu ônibus. No ano passado, abandonou o ofício e foi trabalhar com o aplicativo Uber, depois de uma agressão que sofreu em agosto. A história de Wladimir, contada na série ‘Passageiros da Agonia’, ilustra um problema crônico no Grande Rio. Transtornos psicológicos e psiquiátricos causados pela violência urbana e pelo estresse do trânsito mantêm 6 mil motoristas e cobradores afastados de suas funções para tratamento em Niterói, São Gonçalo, Maricá, Itaboraí e Tanguá. Equivalem a 20% do efetivo (um a cada cinco profissionais) de 30 empresas de transporte que atuam nessas cidades. Os dois assaltos a ônibus ocorridos em sequência ontem em Niterói levaram o Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Passageiros de Niterói a Arraial do Cabo (Sintronac) a divulgar a estatística.

De outubro de 2015 a outubro de 2016, 6.998 atendimentos (quase 20 por dia) com psicólogos e 2.252 (seis por dia) com psiquiatras foram realizados pelos rodoviários, segundo sindicato. “Coletivos que circulam na Avenida do Contorno e nas vias de acesso à Ponte Rio-Niterói, pelo lado da capital, são alvos diários de marginais. Essas práticas criminosas requerem medidas urgentes da Segurança Pública do estado”, cobrou o presidente do sindicato, Rubens dos Santos Oliveira. Segundo o Sintronac, ofícios foram enviados no início do ano passado aos 5º, 7º e 12º BPMs (Praça Mauá, São Gonçalo e Niterói) pedindo reforço na segurança. O sindicato ressalta que as solicitações não surtiram efeito. Já a PM diz que faz operações rotineiras de abordagem e revista em ônibus para coibir práticas delituosas nas regiões.

Soluções individuais contra a violência prejudicam a mobilidade
A violência urbana freia a qualidade na mobilidade em todo o país. Pesquisa divulgada ontem pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) apontou que 28,7% dos motoristas de ônibus urbanos de 12 Unidades da Federação (quase um terço), incluindo o Rio, foram vítimas de assalto pelo menos uma vez nos últimos dois anos. Entre os pontos negativos da profissão, 35,9% acham perigosa; 30,8% afirmam que o principal problema é o risco de assaltos e roubos. Entre as reivindicações, 61,7% destacam a necessidade de maior segurança. “É preciso maior atenção ao problema, porque essa insegurança crescente afugenta os usuários do sistema coletivo. Estes então tendem a buscar soluções individuais de mobilidade, como motos e carros, o que agrava os congestionamentos”, avalia Bruno Batista, diretor executivo da CNT.

Muitos não largam o trabalho por amor à carreira: 70% gostam de ser motorista. Foram realizadas 1.055 entrevistas nas cinco regiões do Brasil entre 6 e 19 de dezembro. O presidente do sindicato dos rodoviários do Rio critica a falta de integração entre prefeitura, empresas e polícia. “A prefeitura monitora os ônibus por GPS. As câmeras da CET-Rio registram a hora e onde tal veículo estava. A câmera interna identifica o que acontece no crime. Não há razão para índices tão altos de violência e impunidade”, critica Sebastião José, presidente do Sintraturb.

Os motoristas de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí, Tanguá e Maricá não recebem treinamento específico para casos de assaltos, mas são orientados a não reagir, segundo o sindicato das empresas da região (Setrerj). A Fetranspor padroniza as denúncias de roubos em um sistema chamado Safe, para alimentar a inteligência dos órgãos de segurança.

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