quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

PM pede desculpas à Arquidiocese após militares invadirem igreja no Centro

Na terça-feira policiais entraram na Igreja São José, ao lado da Alerj, e atiraram com munição não-letal em direção a manifestantes que protestavam contra o pacote de medidas que estavam sendo votadas.


Encontro entre a alta cúpula da PM, o bispo auxiliar do Rio, o provedor da Igreja do Glorioso Patriarca São José e o cardeal Dom Orani Tempesta aconteceu nesta quarta-feira.

MARIA INEZ MAGALHÃES

Rio - "Lamentável". Foi assim que o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Wolney Dias, classificou a invasão de agentes à Igreja São José durante o protesto ocorrido em frente à Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), na terça. Na ocasião, PMs se posicionaram nas janelas do templo, que fica na Rua São José, no Centro, ao lado da Casa, para atirar com munição não-letal em direção aos manifestantes. O oficial esteve, pela manhã, com o arcebispo do Rio, Dom Orani Tempesta, para pedir desculpas pelo ocorrido.

"Na verdade, o motivo principal da minha vinda aqui hoje foi para formalizar um pedido de desculpas oficial da Polícia Militar, como seu representante, relativo ao episódio de ontem. Consideramos lamentável que um templo sagrado tenha sido invadido. Logicamente foi uma decisão tática naquele momento, tomada sob o calor da situação, em que policiais estavam sob risco, sendo alvejados com pedras, fogos, bombas. Então, naquele momento se tomou uma decisão", explicou Wolney. O comandante-geral da PM garantiu que a situação está sendo apurada. "Estamos ouvindo os policiais envolvidos. Mas, como disse, o episódio, por si só, é lamentável. É muito ruim. As imagens são muito fortes. Estamos adotando esforços, por meio da adoção de estratégias, que impeçam que outro episódio como esse se repita", disse o oficial.


Momento em que um PM, de dentro da igreja São José, 
jogou gás lacrimogêneo nos manifestantes.

Dom Orani disse ter recebido a promessa do coronel de que abrirá um protocolo para que fatos como esse não ocorram mais. "O comandante Wolney chegou aqui para dizer da sua dor com relação ao que aconteceu ontem, lamentando, e dizendo que a Polícia Militar fará uma nota reconhecendo que não deveria ter acontecido essa presença na igreja, utilizando-a para atacar os manifestantes". Além de Dom Orani, participaram do encontro o bispo auxiliar do Rio, Dom Luiz Henrique, e o provedor da Irmandade da Igreja invadida, Gary Bon-Ali.

Invasão à igreja
Desde as 09:00hs., da terça-feira, os servidores se concentravam na frente do Palácio Tiradentes, sede da Alerj, mas foi por volta das 13:00hs, que os ânimos se exaltaram. Alguns manifestantes tentaram furar o bloqueio policial para entrar na Casa e foram fortemente reprimidos. O Choque usou gás de pimenta, bombas de efeito moral e balas de borracha. À ocasião, as torres da Igreja São José, vizinha à Alerj, também foram usadas por militares para lançar bombas de efeito moral e tiros de balas de borracha nos manifestantes. A PM informou que “foi necessário que policiais do Choque entrassem na igreja para coibir a ação de manifestantes violentos no interior e no entorno da igreja”Indagada sobre o uso do centro religioso por policiais, a Arquidiocese do Rio respondeu que “buscaria apurar os fatos”, e destacou que, “em face do contexto atual que marca o Estado do Rio, importa que as soluções sejam buscadas através do diálogo e do esforço de todos, em vista da justiça e da paz”.

A manifestação
A situação no entorno da Alerj ficou totalmente fora de controle. As ruas da Assembleia, do Carmo, Quitanda, São José e avenidas Nilo Peçanha e Rio Branco foram tomadas por barricadas de fogo para impedir a passagem do caveirão e da cavalaria. Lojas fecharam por volta das 16:00hs., totens publicitários foram quebrados e até o prédio conhecido como ‘Banerjão’, que abrigava órgãos estaduais e está em reforma, teve as vidraças estilhaçadas e uma retroescavadeira, que estava no pátio do prédio foi queimada. O VLT teve duas paralisações no serviço ao longo do dia, das 14:30hs., às 15:10hs.,e das 16:10hs., às 17:15hs. No final do dia, o funcionamento ficou restrito entre as estações da Praça Mauá e Rodoviária Novo Rio. O metrô funcionou normalmente.


Protesto de servidores estaduais terminou em confusão na tarde desta terça-feira 
em frente à Alerj. PM jogou gás lacrimogêneo e houve correria no local.

Entre os feridos, o presidente do Sindicato dos Servidores do Sistema Penal do Rio, Gutemberg de Oliveira, foi atingido por uma bala de borracha no olho direito. Ele foi levado ao Hospital Souza Aguiar e depois para a Policlínica de Botafogo, que não quis informar seu estado de saúde. Nas redes sociais, amigos disseram que ele corre risco de perder a visão do olho atingido. Ainda por volta das 18:00hs., quando muitas pessoas deixavam o trabalho, o clima nas ruas da região ainda era de muita tensão. Um homem, que preferiu não se identificar, foi atingido no braço por estilhaços de bomba atirada pela polícia na altura da Rua do Carmo. “Acabei de sair do trabalho, só estou tentando ir embora.”

A PM informou que 11 policiais foram feridos no confronto após o lançamento de bombas de fabricação caseira, rojões e morteiros. Todos tinham estado de saúde estável, à exceção de um agente que sofreu fratura no rosto causada pela explosão de um morteiro. Nove homens foram detidos e encaminhados à 9ª DP (Catete).

OAB repudia a atuação da polícia
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ) emitiu nota oficial condenando a violência utilizada pelas forças policiais durante a manifestação de ontem e diz que vai cobrar investigação e punição dos agentes envolvidos, em ato, segundo a nota, “típicos dos regimes de exceção”. O texto dizia que “os excessos, que incluem a invasão de uma igreja e o atentado a transeuntes e manifestantes com o disparo de bombas de efeito moral, demonstram que as autoridades públicas do Rio de Janeiro perderam a capacidade de administrar a crise.”

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