terça-feira, 19 de julho de 2016

Justiça concede reintegração de posse do Museu do Índio no Rio

O local é ocupado desde quarta-feira, quando a Funai fez um chamado para o movimento indígena fazer atos em suas sedes.


Índia Potira mostra um dos porretes, acervo 
do museu, usado durante o confronto.
AGÊNCIA BRASIL

Rio - A Justiça Federal concedeu ontem (18) à Fundação Nacional do Índio (Funai) mandado de reintegração de posse do Museu do Índio, que fica em Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro. O local está ocupado desde quarta-feira (13), quando a própria Funai fez um chamado para o movimento indígena nacional fazer atos em suas sedes em todo o Brasil contra cortes na instituição. O ato convocado pela Funai acabou no mesmo dia mas, segundo a fundação, um grupo resolveu ficar no local. “Foram realizadas tratativas entre os servidores do museu e os ocupantes para que estes deixassem as instalações, o que não ocorreu”. Na tarde de (17), os índios que ocupavam o local, integrantes da Aldeia Maracanã – que por sete anos ocupou o antigo Museu do Índio, ao lado do estádio do Maracanã – fizeram uma manifestação em frente ao museu de Botafogo. De acordo com o professor bilíngue Uratau Guajajara, os indígenas resolveram permanecer no local para reivindicar a reintegração de posse da Aldeia Maracanã, a extinção da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215, que passa para o Congresso Nacional a responsabilidade sobre a demarcação das terras indígenas e quilombolas, e a realização de eleições entre os índios para escolher o presidente da Funai e os diretores do Museu do Índio.

“Resolvemos ficar, mas aí entramos em choque com o museu, que disse que era tudo brincadeira, ocupar Funai é brincadeira. Dissemos que não. 'Nós ocupamos para fazer as reivindicações'. Aí, a direção atual do Museu do Índio veio a nós, começamos a fazer um ritual, mas a guarda começou a chutar o ritual, dizendo que não iríamos ficar ali. A segurança começou a chegar, se aglomerar e, logo em seguida, os Fulni-ô chegaram por trás, quer dizer, estava tudo organizado. Os Fulni-ô foram por trás e nós, distraídos, já começaram a baixar o cacete”, relatou Uratau Guajajara.

De acordo com a Funai, “o grupo permaneceu no local e acendeu uma fogueira no jardim da instituição, colocando em risco os acervos e o conjunto arquitetônico tombado pelo Iphan [Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional]”.

Vídeos e fotos postados nas redes sociais por apoiadores da ocupação e da Aldeia Maracanã mostram o confronto, com indígenas feridos e pessoas batendo em outras com pedaços de pau. Segundo o escritor Pedro Rios Leão, que estava na ocupação e também apanhou, as agressões ocorreram na noite de sábado (16) e também após o ato de domingo (17). “Gritei que não estava fazendo nada e fiquei só me encolhendo em posição fetal. Quatro homens me agarraram com pedaços de pau, dois seguranças. Poderiam ter aberto o portão e me jogado na rua, eu sequer estava me debatendo, mas resolveram me jogar no chão e me espancar na frente de todo mundo. Só apanhei menos porque outras pessoas entraram e, no fim, eles não tinham como bater em todo mundo, nem poderiam matar ninguém”, contou Leão.

Ele disse que a polícia só apareceu após o confronto. “Como eles, ou espancavam a gente até a morte ou se evadiam, porque estavam sendo filmados, eles se evadiram. A Polícia Federal só chegou depois disso, não prendeu ninguém, não pegou os agressores, que tiveram a vida mais tranquila do mundo. Agora teve o pedido de reintegração de posse, ou seja, estamos sendo punidos por ter sido espancados.”

Sobre as agressões, a Funai informa que indígenas da etnia Fulni-ô, que estão no Rio de Janeiro para atividade apoiada pelo museu, “reagiram a agressões contra um servidor indígena do museu, que vinha sendo alvo de insultos e difamação por parte dos ocupantes”. A instituição manifesta “apreensão diante da paralisação das atividades do Museu do Índio, desde a última quarta-feira (13), assim como pela segurança do seu acervo histórico”. A Funai acrescenta que vai pedir que a Polícia Federal apure o caso.

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