domingo, 26 de junho de 2016

Trens do pré-metrô ‘repousam’ no Centro

Sem uso há 12 anos, 28 composições se deterioram. 
Estado as transferiu para concessionária em troca de obras.


Os vagões estão em terreno da concessionária MetrôRio, 
que fica ao lado da Avenida Presidente Vargas.
GUSTAVO RIBEIRO

Rio - Trens que operavam na Linha 2 do então sistema de pré-metrô do Rio estão sem uso desde 2004. Sob sol e chuva, eles se deterioram lentamente estocados no pátio do MetrôRio na Cidade Nova, próximo à prefeitura. A Secretaria Estadual de Transportes (Setrans) transferiu, em fevereiro do ano passado, 28 composições antigas para a concessionária assumir a construção de duas subestações de energia, avaliadas em R$ 18.000.000,00, que seria custeada pelo governo. O Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ) vai analisar o repasse dos bens em uma auditoria que confere o equilíbrio financeiro da concessão da Linha 1. A secretaria afirma que as novas subestações, em Thomaz Coelho e Coelho Neto, já foram construídas pelo MetrôRio. O órgão argumenta que as composições ficaram obsoletas em relação ao modelo de operação atual e se tornaram patrimônio da concessionária. Questionada pela reportagem sobre os valores envolvidos na operação, a Setrans não informou quanto valiam os trens transferidos e não confirmou se essa avaliação chegou a ser feita. Questionada, a concessionária MetrôRio também não respondeu sobre o valor da propriedade adquirida. A empresa informou apenas que os trens estão obsoletos e que, por isso, não serão reaproveitados em nenhuma linha. A companhia avalia que destino dará às composições, que receberam instalações de ar-condicionado na época em que eram do governo.

O TCE explicou que, como se trata de operação financeira, a cessão dos trens será avaliada na auditoria da Linha 1 em curso, que pretende saber como está a balança das obrigações financeiras do estado e da concessionária. De acordo com o órgão, não se trata de análise sobre a legalidade da transição, mas do ponto de vista contábil. O procedimento, iniciado há pouco tempo, não tem prazo para conclusão. José Ricardo Ramalho, especialista em Direito Administrativo, ressalta que o estado deveria saber o valor do patrimônio negociado. “O governo deveria ter calculado o valor dessas unidades, senão como provar que não causou dano ao erário?”

Opções para a utilização
Especialistas em mobilidade contestam que as composições do pré-metrô sejam obsoletas. Segundo Atilio Flegner, pesquisador do Fórum de Mobilidade Urbana do Rio, os carros, fabricados pela falida Cobrasma na Bélgica e em São Paulo, têm capacidade para 24 mil passageiros por hora e por sentido e poderiam substituir as locomotivas a diesel da SuperVia nos ramais Inhomirim e Guapimirim. O pré-metrô era um sistema de veículo leve sobre trilhos (VLT), de menor capacidade que o metrô, que funcionava em parte da Linha 2 nas décadas de 1980 e 1990.

“Alguns desses trens começaram a rodar a partir de 1979 e outros, em 1981. Não têm nem 40 anos de idade. Obsoletas são as locomotivas da década de 1950 da SuperVia”, avalia Flegner. “As locomotivas a diesel poluem o ar e têm aceleração e frenagem muito lentas. O VLT acelera e freia mais rapidamente, o que diminuiria o tempo de viagem, e é mais silencioso, por ser elétrico. Só teria que eletrificar os ramais Inhomirim e Guapimirim.” A SuperVia informou não ter recebido proposta do estado para os VLTs.

Doutor em Engenharia de Transporte, Fernando Mac Dowell, responsável pelo projeto do pré-metrô, garante que os VLTs poderiam ter sido colocados em operação no metrô antes da compra dos atuais trens chineses. Na visão dele, o governo poderia aproveitar melhor os veículos se fosse criada uma linha de VLT na Barra da Tijuca, ligando regiões do bairro à futura estação da Linha 4, no Jardim Oceânico. “O mais caro é o carro, que já está aí.” Professor de Engenharia de Transportes da Coppe/UFRJ, Márcio D’Agosto lembra que projeto de 1970 previa um pré-metrô com traçado semelhante ao do BRT Transcarioca. “Se tivesse sido feito há 20 anos, haveria hoje um sistema transversal de metrô na cidade.”

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