quinta-feira, 9 de junho de 2016

IML de São Gonçalo pode suspender serviços a qualquer momento

Corpos deverão ser transferidos para Niterói. Necropsias 
da unidade do Centro são feitas em Campo Grande.


Departamento que comanda o IML no Rio determinou 
transferência de necropsias da unidade do Centro.
MARIA INEZ MAGALHÃES 
E MARLOS BITTENCOURT

Rio - A crise que assola o Instituto Médico-Legal (IML) do Centro do Rio atravessou a Ponte e chegou a São Gonçalo. O Posto Regional de Polícia Técnico-Científica do município também deve suspender a qualquer momento o serviço de necropsia pelo mesmo motivo que levou os peritos do IML do Rio a deixarem de fazer o trabalho, parado desde a manhã da última terça-feira: a sujeira da unidade. É que os funcionários da limpeza de São Gonçalo também estão com os salários atrasados e podem parar de trabalhar. Alguns, mesmo sem receber, ainda estariam indo ao posto na esperança de serem pagos ou até mesmo por medo de perder o emprego. Famílias que foram ontem ao IML do Centro para reconhecimento e liberação de corpos nem sabiam se conseguiriam enterrá-los no prazo de 24 horas. Este foi o caso do mecânico Carlos Roberto Moreira, de 51 anos. O irmão dele, Antônio Marcos Moreira, 39, morreu de um ataque cardíaco na terça-feira, por volta das 15:00hs., e deu entrada ontem, às 18:53hs. Mas a unidade deixou de receber corpos e passou a encaminhá-los ao IML de Campo Grande, na Zona Oeste.“A necropsia do meu irmão só deverá ser feita amanhã (hoje). Quando vou enterrá-lo?”, revoltou-se.

A família do taxista José Cardoso Carneiro, 76, assassinado ontem em uma tentativa de assalto na Avenida Brasil, na altura de Cordovil, na Zona Norte, constatou o problema. O corpo dele foi levado para Campo Grande. Sobrinha do taxista, a funcionária pública Daniela Gouveia, 32, disse que foi procurar o corpo do tio na unidade do Centro. E se espantou. “Fui ao IML e aquilo estava muito sujo. Ninguém merece ficar num lugar imundo daquele jeito, chega a ser desrespeitoso. Em Campo Grande também não estava bom, não”, afirmou Daniela. A Polícia Civil já está preparada para transferir os corpos de São Gonçalo para o IML de Niterói se as necropsias no município forem suspensas. E até os postos de Campo Grande, Duque de Caxias e Nova Iguaçu — para onde estão indo os corpos que deveriam ir para o Centro — também podem deixar de periciar os mortos por sobrecarga de serviços se o problema na sede do IML persistir por muito tempo.

As unidades, no entanto, ainda funcionam porque contam com ajuda e doações de setores públicos, como as prefeituras locais, e privados como associações de moradores, comerciais e até hospitais. Com o auxílio vindo de fora as unidades ainda têm condições de receber os corpos do IML do Centro. E essa ajuda vai desde a compra de material como papel até insumos e cessão de pessoal para atuar nas unidades. Em Resende, no Sul do estado, e em Cabo Frio, na Região dos Lagos, por exemplo, um acordo entre a Polícia Civil e as prefeituras das duas cidades permite que os postos sejam custeados 100% por elas.

Sem exame de corpo de delito
A dona de casa Joice Santos, 20, esteve ontem no IML do Centro para fazer exame de corpo de delito depois de ser agredida pelo ex-marido. “Estão demorando muito para me atender, estou esperando faz quase duas horas. Pergunto sobre o atendimento, mas não me respondem”, disse ela. Agente funerária há 40 anos, Tereza Habib, 80, trabalha há sete no IML do Centro tratando de enterros. Ela contou jamais ter visto situação parecida como a atual. “Nunca vi algo tão horrível. Depois da necropsia fica tudo sujo, pode até ter sangue contaminado com Aids, e não há ninguém para limpar. Os legistas estão com medo”, afirma Tereza.

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