sábado, 28 de maio de 2016

Sarney diz, em áudio, que Lula teria se arrependido em escolher Dilma

Em um diálogo inédito, José Sarney e Sérgio Machado falam sobre a presidente afastada Dilma Rousseff e sobre o ex-presidente Lula.


Neyara Pinheiro
Teresina, PI

Em um novo trecho das conversas gravadas pelo ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, com políticos do PMDB, o ex-presidente José Sarney diz que Lula teria se arrependido da escolha de Dilma para sucedê-lo na presidência da República. A conversa foi gravada por Sérgio Machado na casa do ex-presidente José Sarney. Nesse diálogo inédito, eles falavam sobre a presidente afastada Dilma Rousseff e sobre o ex-presidente Lula. O nome de Lula não é citado diretamente, mas para os investigadores fica claro que a conversa é sobre ele.

Machado: Agora, tudo por omissão da Dona Dilma.
Sarney: Ele chorando. O que eu ia contar era isso. Ele me disse que o único arrependimento que ele tem é ter eleito a Dilma. Único erro que ele cometeu. Foi o mais grave de todos.

Em gravação citada pela Folha de S.Paulo entre Machado e o presidente do senado Renan Calheiros, o assunto também é Lula, mas a conversa é sobre envolvimento do ex-presidente no esquema do mensalão do PT. Segundo a Folha, Renan Calheiros afirma que Lula havia saído, Ou seja, não processado no mensalão porque os pagamentos ao marqueteiro Duda Mendonça no exterior não foram investigados a fundo quando vieram a público.

Renan: O problema do Lu...por que que o Lula saiu [não foi acusado no processo do mensalão]? Porque o Duda [Mendonça, marqueteiro] fez a delação, na época nem tinha [a lei], o Duda fez a delação, e disse que recebeu o dinheiro fora e ninguém nunca investigou quem pagou, né? Este é que foi o segredo.

Duda Mendonça foi o marqueteiro da campanha vitoriosa de Lula em 2002. Ele acabou absolvido no julgamento do mensalão. Em outro trecho, também publicado pela Folha, Renan e Machado se referem ao tríplex e ao sitio que os investigadores afirmam que são de propriedade do ex-presidente. Lula nega ser o dono. Os dois citam uma quantia em dinheiro que Lula teria sem mencionar a origem. Reportagem da revista Veja mostrou que a empresa de palestras de Lula teria faturamento semelhante à quantia citada por Machado.

Machado: Botou na real. Aí [inaudível] umas besteiras, como a Marisa diz, besteira. Ele tem R$ 30 milhões em caixa. Como é que não comprou um apartamento, uma p*** [inaudível]. P***, umas m***, um sítio m***, um apartamento m***.

Nas gravações que fez de conversas com integrantes da cúpula do PMDB, Sérgio Machado, mostrou que ajudou aliados. Os diálogos não permitem dizer que tipo de ajuda foi essa. Um deles, segundo os investigadores, foi Gabriel Chalita. Na gravação, machado afirma que contribuiu para o Michel Temer, e faz referência a campanha de alguém que ele chama apenas de menino. Os investigadores identificam esse menino como Challita, que concorreu pelo PMDB à prefeitura de São Paulo, em 2012. Os diálogos não revelam de que forma foi a contribuição.

Machado: O Michel, presidente..., lhe dizer..., eu contribuí pro Michel.
Sarney: Hum.
Machado: Eu contribuí pro Michel..., não quero nem que o senhor comente com o Renan..., eu contribuí pro Michel pra candidatura do menino..., falei com ele até num lugar inapropriado que foi na base aérea...

Sarney, em seguida, aparenta preocupação com a revelação e quer saber se uma ajuda que ele próprio recebeu de Machado é do conhecimento de mais alguém.

Sarney: Mas alguém sabe que você me ajudou?
Machado: Não, sabe não. Ninguém sabe, presidente.

Além das gravações, Sérgio Machado já deu vários depoimentos aos investigadores, que estão agora analisando todas essas informações trazidas pelo ex-presidente da Transpetro. A delação premiada dele foi homologada pelo Supremo Tribunal Federal e, a partir de agora, começa uma nova etapa da apuração. Os senadores Renan Calheiros, Romero Jucá e o ex-presidente José Sarney podem ser chamados a dar explicações. O presidente da República em exercício, Michel Temer, negou que tenha pedido doação a Sérgio Machado para a campanha de Gabriel Chalita. Na nota enviada por sua assessoria, Temer diz também que não foi candidato nas eleições municipais de 2012, e não recebeu nenhuma contribuição. O presidente em exercício afirma ainda que nunca se encontrou em lugar inapropriado com Sérgio Machado.

O ex-secretário de Educação da prefeitura de São Paulo, Gabriel Chalita, afirmou, também por nota, que não conhece Sérgio Machado, e que todos os recursos recebidos na campanha dele foram legais, fiscalizados e aprovados pelo Tribunal Regional Eleitoral. A assessoria de imprensa do Instituto Lula enviou uma nota em que diz que o ex-presidente Lula já teve seu sigilos bancários e fiscais quebrados, analisados e divulgados, e que cabe aos autores das frases e das gravações comentarem suas declarações privadas divulgadas ilegalmente.

A presidente afastada Dilma Rousseff disse que que não vai comentar as declarações de José Sarney e de Sérgio Machado. O presidente do Senado, Renan Calheiros, também não vai comentar. O advogado de José Sarney, Antônio Castro de Almeida Castro, disse que o ex-presidente não vai responder fragmentos do que está sendo vazado e que pediu cópia da delação de Sérgio Machado ao STF para poder responder de forma contextualizada.

Antonio Carlos de Almeida Castro também é advogado de Duda Mendonça e, sobre o cliente, disse que a afirmação de que Lula não foi processado no mensalão por causa da delação do publicitário não tem sentido. Almeida Castro disse que Duda não protegeu ninguém, foi processado criminalmente no mensalão e foi absolvido pelo pleno do Supremo. A defesa do ex-presidente da Transpetro disse que Sérgio Machado não pode se manifestar, porque a delação ainda está sob sigilo.

http://g1.globo.com/

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