sexta-feira, 20 de maio de 2016

PF deflagra operação para investigar pessoas ligadas a Lula e a Odebrecht

Justiça expediu quatro mandados de busca e dois de condução coercitiva. Ex-presidente não é alvo direto das diligências feitas em São Paulo e Santos.


Empresa de Taiguara funcionava em prédio ao lado da Polícia Federal.
Camila Bomfim*
Da TV Globo, em Brasília

A Polícia Federal (PF) deflagrou nesta sexta-feira (20) uma operação batizada de Janus que investiga contratos da construtora Odebrecht com o empresário Taiguara Rodrigues dos Santos, sobrinho da primeira mulher do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O petista, no entanto, não é foco direto das diligências realizadas pelos policiais federais em São Paulo e Santos, no litoral paulista. Os alvos da Operação Janus são suspeitos de terem cometido os crimes de tráfico de influência e lavagem de dinheiro. A Justiça Federal expediu quatro mandados de busca e apreensão e dois de condução coercitiva (quando a pessoa é obrigada a ir depor). Além de Taiguara, foi obrigado a prestar depoimento à PF o sócio do sobrinho da ex-mulher de Lula, José Manuel de Deus Camano. As empresas onde foram cumpridos os mandados de busca e apreensão são ligadas à Odebrecht, que é investigada pela Operação Lava Jato por envolvimento no esquema de corrupção que atuava na Petrobras.

Ao G1, a assessoria da Odebrecht informou que a empresa não irá comentar a nova operação da PF. Até a última atualização desta reportagem, o G1 não havia localizado as defesas de Taiguara e Camano. Sobrinho de Maria de Lourdes da Silva – primeira mulher de Lula que morreu na década de 1970 –, Taiguara é dono da Exergia, uma empresa do ramo da construção civil sediada em Santos que foi contratada pela Odebrecht para atuar em obras complexas de um empreendimento da construtora em Angola. A empreiteira brasileira executou, entre 2012 e 2015, as obras de ampliação e modernização da hidrelétrica de Cambambe. No mesmo ano, a Odebrecht obteve um financiamento de US$ 464.000.000,00 junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) para executar o projeto no continente africano.

Segundo a PF, a Operação Janus pretende investigar se a Odebrecht utilizou os contratos com a empresa do sobrinho da ex-mulher de Lula para pagar "vantagens indevidas". A apuração, informou a assessoria da Polícia Federal, teve início quando foi enviado para a corporação um procedimento de investigação criminal do Ministério Público Federal que solicitava a investigação de suposto pagamento de propina pela Odebrecht, entre 2011 e 2014, em troca de facilidades na obtenção de empréstimos de interesse da empreiteira junto ao BNDES. Funcionários do prédio onde, segundo os registros oficiais, está sediada a Exergia informaram ao G1 que a empresa está fechada há, pelo menos, um ano. Desde então, relataram os funcionários, não tiveram mais notícias de Taiguara. O imóvel, um dos mais antigos de Santos, fica ao lado da sede da superintendência local da Polícia Federal. Os policiais federais também vistoriaram o apartamento de Taiguara, localizado na Ponta da Praia, por volta das 06:00hs. O empresário mora em uma cobertura duplex com a mulher. Os agentes saíram do local com vários objetos e documentos do sobrinho da ex-mulher de Lula. De acordo com funcionários do edifício residencial, Taiguara não estava no local.

A Polícia Federal explicou que o no nome da operação é uma referência ao deus romano Janus (ou Jano). Ainda de acordo com a corporação, a menção à divindade latina de duas faces, que olha ao mesmo tempo para o passado e para o futuro, tem o objetivo de mostrar "como deve ser realizado o trabalho policial, sempre atento a todos os lados e aspectos da investigação".

CPI do BNDES
Em outubro do ano passado, Taiguara dos Santos prestou depoimento à CPI criada na Câmara para investigar contratos do BNDES com empresas investigadas na Operação Lava Jato. Na ocasião, o empresário de Santos negou que sua ligação familiar com Lula tivesse o ajudado a fechar o contrato de prestação de serviços com a Odebrecht. Taiguara admitiu aos deputados que mantém contato com Lula e disse ser próximo do filho mais velho do ex-presidente, Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha. O empresário, porém, negou ter havido interferência por parte do petista para que ele fechasse os contratos. Ele chegou a ressaltar que sua amizade com Lula e com Lulinha não interferia nem positivamente nem negativamente na obtenção dos clientes de sua empresa.

* Colaboraram os G1s Santos e Distrito Federal
http://g1.globo.com/

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