quinta-feira, 12 de maio de 2016

Dilma será afastada do poder


AFP /Agence France-Presse

Dilma Rousseff será afastada nesta quinta-feira da presidência, após a maioria dos senadores se manifestar pelo prosseguimento do processo de impeachment, decisão que será confirmada no voto nas próximas horas. Por volta das 03:20hs., o 41º dos 81 senadores se manifestou a favor do afastamento da presidente para que seja julgada pelo Senado, por um prazo de até 180 dias, até uma decisão definitiva.

Após meses de crise política, o Senado decide pelo julgamento de Dilma por "crime de responsabilidade" ao usar empréstimos de bancos estatais para tapar buracos no orçamento em 2014 e 2015, no que pode encerrar os mais de 13 anos de governo do PT. Às 04:00hs., 42 senadores haviam votado pelo afastamento de Dilma, e 18 por sua manutenção na presidência. O temor do PT é, inclusive, que 54 senadores ou mais - dois terços do plenário - apoiem o impeachment nesta votação. Esta é a cifra que se requer para o impedimento definitivo de Dilma, ao final do julgamento político no Senado. Dilma, uma ex-guerrilheira de esquerda de 68 anos, que assumiu em 2011 como a primeira mulher presidente do Brasil, será automaticamente substituída por seu vice-presidente, Michel Temer, 75, um ex-aliado do PMDB, que se tornou um de seus principais inimigos.

Na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, a polícia militar utilizou bombas de gás e spray de pimenta contra manifestantes pró-Dilma que tentaram romper uma barreira metálica. No Rio de Janeiro, ocorreram conflitos entre manifestantes pró e contra o impeachment, na Cinelândia, no centro da cidade. Em São Paulo, cinco pessoas foram detidas pela polícia em meio a confrontos entre partidários do impeachment e defensores da presidente.

Clima de velório
Dilma tirava livros e outros objetos pessoais de seu escritório na Presidência, onde o clima "é de velório", disse à AFP uma fonte do Planalto que pediu para não ser identificada. A imprensa noticiou que a presidente gravou um vídeo que será transmitido à população imediatamente após seu afastamento. Outra funcionária da Presidência descreveu o clima como "muito triste". "Muitos de nós estamos procurando emprego. Não queremos trabalhar para o vice-presidente", disse esta mulher, que trabalhou no gabinete de Dilma durante três anos. Durante seu julgamento político, a presidente permanecerá na residência oficial, o Palácio da Alvorada, possivelmente recebendo a metade de seu salário. O clima de despedida se explica: a manobra de última hora do governo para frear o impeachment foi infrutífera - o Supremo Tribunal Federal rejeitou o recurso apresentado na véspera pela Advocacia-geral da União para anular o impeachment da presidente.

A Praça dos Três Poderes, centro do poder em Brasília, normalmente tomada por pedestres e pelo trânsito, foi fechada ao público e está deserta. "Para mim, é um golpe acertado por políticos que querem o poder a todo custo", disse Alfredo Vieira Resende, um trabalhador rural de 59 anos que passava por ali. Junto do Congresso, uma cerca de metal foi erguida para dividir manifestantes favoráveis e contra o impeachment, embora por enquanto só um punhado tenha aparecido. Os protestos em São Paulo e outras cidades do país são, por enquanto, muito pequenos.

Processo traumático
Dilma foi reeleita em outubro de 2014, mas sua então elevada popularidade, impulsionada por programas sociais que tiraram milhões de pessoas da pobreza, despencou a 10% em meio a uma recessão econômica que se antecipa como a pior em décadas. Tampouco a ajudou o mega-esquema de propinas na Petrobras, descoberto há dois anos, e que tem na mira dezenas de políticos do PT e aliados, assim como poderosos empresários. Dilma não é alvo de investigação ou acusação por corrupção. Mas tanto seus maiores aliados quanto seus inimigos mais ferozes são investigados por envolvimento no maior escândalo de corrupção da História do Brasil, que desviou da Petrobras mais de US$ 2.000.000.000,00.

Se Dilma for finalmente declarada culpada ao final de seis meses de julgamento, Temer, de 75 anos, presidirá o país até 2018, fim previsto de seu mandato. Ex-aliado do governo até março e agora acusado de traição, Michel Temer assumirá a presidência interinamente se a presidente de 68 anos for de fato suspensa do cargo. Sua permanência no poder levanta várias questões, pois embora seja apoiado pelos mercados, é até mesmo mais impopular que a presidente: apenas 2% dos brasileiros votariam nele em eleições presidenciais. "Temer terá grandes desafios, não é uma tarefa fácil. Não terá a legitimidade das urnas, mas terá que buscá-la na Constituição (...) Não pode errar", afirmou o senador Aécio Neves (PSDB), derrotado por Dilma nas disputadíssimas eleições presidenciais de 2014 por apenas 3%.

A crise política atinge seu auge a menos de três meses dos Jogos Olímpicos do Rio e em meio a uma epidemia de zika, que causa microcefalia em bebês, e milhares de casos de dengue, chicungunha e gripe H1N1. O impeachment é um processo "longo e traumático", que "coloca uma enorme responsabilidade sobre o Senado", afirmou pouco antes do início da sessão o presidente da Casa, Renan Calheiros. "Decidiremos sobre o afastamento temporário ou a permanência no poder da presidente Dilma Rousseff, que foi eleita pelo voto", acrescentou o líder dos senadores, que pediu "serenidade e espírito público" aos colegas.

"Golpe moderno"
Dilma, que governa a maior economia da América Latina desde 2011, após suceder Luiz Inácio Lula da Silva (2003-10), acusa seu vice de orquestrar um "golpe moderno" contra ela e afirma que governantes da oposição antes dela praticaram as mesmas pedaladas fiscais das quais é acusada. "Vou lutar (contra o impeachment) com todas as minhas forças, usando todos os meios possíveis, meios legais, meios de luta", prometeu a ex-guerrilheira, que foi presa e torturada durante a ditadura militar (1964-1985). O processo de impeachment pretende "ferir de morte" uma eleição legítima, denunciou na sessão a senadora governista Angela Portela (PT-RR). Em Roma, o papa Francisco fez um apelo ao diálogo no Brasil: "Meus pensamentos estão com essa amada nação (...), que atravessa momentos de dificuldade".

Quatro presidentes governaram o Brasil desde o retorno da democracia, em 1985, e Dilma Rousseff pode tornar-se a segunda a sofrer um processo de impeachment. Em 1992, Fernando Collor de Mello (1990-1992) renunciou antes de o Senado votar sua destituição e, paradoxalmente, hoje será o senador pelo PTC-AL foi o 38º a subir à tribuna para declarar seu voto na Câmara Alta.

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