segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Braço-direito de Dilma há mais de uma década é exonerado do cargo.


Dilma e o assessor Anderson Dorneles fazem campanha presidencial para a petista em 2010.

MARINA DIAS
GUSTAVO URIBE
FLÁVIA FOREQUE
DE BRASÍLIA

"O menino vai se casar." A frase que ecoou nos corredores do Palácio do Planalto em outubro do ano passado, somada aos temores de uma delação premiada de executivos da empreiteira Andrade Gutierrez, chancelou o destino de um dos mais fiéis assessores presidenciais. Anderson Dorneles, um gaúcho de 36 anos, costura há pelo menos três meses sua saída do governo Dilma Rousseff, publicada nesta segunda-feira () no "Diário Oficial da União"Para ocupar seu lugar no cargo de assessor especial da Presidência da República foi nomeado o jornalista Bruno Gomes Monteiro, também gaúcho, ex-chefe de gabinete da Secretaria de Política para as Mulheres. Além da proximidade de seu casamento, marcado para março em um luxuoso hotel em Bento Gonçalves (RS), um bar localizado no estádio Beira-Rio, arena reformada pela Andrade Gutierrez, tornou insustentável a permanência de Anderson ao lado de Dilma. No fim do ano passado, começou a circular a informação de que ele é sócio de um bar dentro do Beira-Rio, obra ligada à empreiteira que é investigada pela Operação Lava Jato por suspeitas de corrupção em empreendimentos da Copa do Mundo de 2014.

O conteúdo da delação que vem sendo negociada por executivos da Andrade Gutierrez, considerado de potencial explosivo pelo Planalto, obrigou o jovem gaúcho a ter uma conversa definitiva com a chefe sobre o assunto no final de 2015. Dessa vez a contragosto, Anderson deixou seu cargo no governo. Ele havia pedido demissão pelo menos outras três vezes ao longo das quase duas décadas em que trabalhou com Dilma. Mas, em 26 de dezembro de 2015, ao sair oficialmente de férias, sabia que não poderia mais voltar ao seu gabinete no terceiro andar do Palácio do Planalto. Procurado pela Folha desde outubro, Anderson negou diversas vezes que iria sair do governo e, nesta segunda, não quis comentar sua relação com o bar no Beira-Rio nem a publicação de sua exoneração do "Diário Oficial".

RELAÇÃO A DOIS
Foi a presidente quem deu o apelido de "o menino" para Anderson, que conheceu quando ele tinha apenas 13 anos e era office-boy da Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul, comandada à época por Dilma. Desde então, os dois seguiram juntos até a Presidência da República, numa relação maternal, porém, com todos os contornos de "gato e rato""Não havia ninguém tão perto do poder quanto Anderson e também não havia quem sofresse tanto quanto ele no governo", admite um atento observador de dentro do Planalto. Anderson era o portador do iPhone e do iPad presidenciais. Era ele quem recebia —e lia— os e-mails e atendia às ligações, inclusive dos ministros, antes de repassá-los a Dilma. Uma de suas funções era sentir a temperatura da chefe e encontrar o melhor momento para entregar recados e avisá-la sobre os telefonemas. Opinião sobre o governo e ajuda com a avaliação do cenário político, porém, Dilma nunca pediu ao "menino", que também escutava a maior parte das broncas e, muitas vezes, gritarias da presidente.

A relação tão próxima já teve vários outros desgastes, que culminaram em ameaças e pedidos de demissão que não foram aceitos por Dilma. Em um deles, quando a petista ainda era ministra de Minas e Energia do governo Lula, Anderson contou que havia conseguido um novo emprego em Porto Alegre, na siderúrgica Gerdau. Dilma não hesitou em telefonar para o empregador e pedir que ele não contratasse seu assessor. Em 2010, durante a campanha presidencial, "o menino" simplesmente voltou à capital gaúcha, alegando estresse, e lá ficou por duas semanas. Outro homem de confiança de Dilma, Giles Azevedo foi incumbido de ir pessoalmente a Porto Alegre para convencer Anderson a voltar. E ele voltou. No segundo mandato da presidente, a proposta foi que ele trabalhasse sete dias por semana, sem intervalos. Anderson protestou e disse que era inviável continuar dessa maneira. Mais uma vez Dilma cedeu e pediu que ele revezasse as tarefas, pelo menos por um dia, com outra assessora.

A vida de dedicação quase total à presidente, aliás, interrompia-se muitas vezes somente nas madrugadas. Mas Anderson criou uma regra pessoal de nunca dormir no Palácio da Alvorada. Vez ou outra precisava sair duas ou três da manhã após um exaustivo dia de trabalho, mas corria para a casa que dividia com outros dois amigos, mesmo que para poucas horas de sono. Segundo Anderson, se dormisse uma única vez em um dos quartos de hóspede da residência oficial da Presidência da República, nunca mais sairia de lá. "Mau presságio", brinca um colega de governo.

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