sexta-feira, 18 de abril de 2014

Alegria de criança morta na Maré incomodava assassino, diz polícia

Menor confessou crime. Ele foi classificado por delegado como extremamente frio.


MARIA INEZ MAGALHÃES

Rio - O menor de 14 anos que matou o menino Caio Henrique Santos da Silva, de 4 anos, encontrado dentro da máquina de lavar em sua casa, no Complexo da Maré, Zona Norte do Rio, disse aos policiais da Divisão de Homicídios (DH) que a alegria da vítima o incomodava. De acordo com o delegado Rivaldo Barbosa, o adolescente prestou depoimento de forma bastante fria e tomou refrigerante durante o relato.

“O autor percebeu que a vítima estava muito alegre e se sentiu incomodado com aquela alegria. Ele disse que queria estar em paz porque tinha muitos problemas. Ele estava vendo televisão, queria ficar quieto e se insurgiu contra a felicidade daquela criança. Tapou a boca dela e depois a matou. Ele contou que, depois, ficou sentado torcendo para que ninguém descobrisse o corpo que ele havia escondido”, explicou o delegado Rivaldo Barbosa, da DH.

Segundo os agentes, o assassino não discutiu com Caio, conforme divulgado anteriormente. O menino trouxe um ovo de páscoa da escola na quarta-feira e estava contente com o brinde recebido, chegando a dividir um bombom com o acusado antes do crime. O rapaz contou que queria ver TV e a criança o atrapalhava. Ele sufocou a vítima e o levou para o quarto, pegou uma faca na cozinha e deu cinco golpes no peito do menino, escondendo o corpo no guarda-roupas. Os pais da criança, que não estavam em casa durante o crime, perguntaram pelo menino para o menor, que respondeu dizendo não saber de seu paradeiro. Segundo a investigação, a criança agonizava. Então, ele escondeu o corpo na máquina de lavar

Pela manhã, quando uma das irmãs da vítima foi buscar um short na máquina, encontrou o corpo de Caio. Revoltados, moradores da Maré cercaram a residência e ameaçaram linchar o adolescente, que foi transportado em um tanque do Exército até a delegacia. Cerca de 70 homens da Força de Pacificação da Maré foram necessários para conter a população e retirar o menor de idade. De acordo com os agentes, o assassino, que é primo de Caio, chegou de Mangaratiba na terça-feira após ter brigado com seu irmão.  Segundo a DH, a mãe de Caio, Vanessa Lima disse que não tinha condições de ficar com ele, mas deixou-o ficar por um tempo e deu até dinheiro para ele comprar pão. A confissão de Caio foi obtida com a ajuda de psicólogos da DH. O perfil dele será analisado e encaminhado à Justiça. A mãe do garoto disse aos policiais que ele tem problemas psicológicos desde os 7 anos. O menor ficará no Instituto Padre Severino, onde poderá cumprir pena máxima de três anos, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente. Rivaldo criticou a lei: “Antes de completar 18 anos ele estará na rua. Um absurdo.”
Jovem ajudou nas buscas 
Companheira de brincadeiras de rua de Caio Henrique Santos da Silva e dos irmãos dele, Y., de 9 anos, testemunhou o início da ação que acabou com a vida do menino. “A mãe dele estava trabalhando ainda na noite de ontem (quarta-feira). Eu vi quando o primo dele (acusado do assassinato) mandou o Caio subir para casa. Ele não queria, parece até que estava sentindo algo, ou que o primo dele já tinha maltratado ele em outro dia”, contou a menor. Segundo a menina, depois do crime, o assassino ainda acompanhou a família nas buscas por Caio, simulando não saber o que tinha acontecido. O acusado foi morar na casa da família supostamente foragido de Mangaratiba. “Acho que ele aprontou alguma por lá e, há cerca de um mês, veio para cá”, contou o comerciante José Ferreira, de 47, dono de birosca vizinha à família de Caio. 


Com apenas 4 anos de idade, Caio era tratado pelos coleguinhas mais velhos da Rua Ivanildo Alves — que tem boa iluminação, forte comércio e pouco movimento de carros e, por isso, foi escolhida pela meninada para brincadeiras — como o bebê da turma. “Ele, às vezes, chorava muito, quando a mãe saía para trabalhar, então, a gente brincava de casinha e ele era sempre o filho. Logo depois, ele esquecia que ficou triste e, todo feliz, brincava a valer com a gente”, recordou M., de 8 anos.

Colaborou Flávio Araújo
http://odia.ig.com.br/

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